Ben Chasny disse-nos em entrevista que a importância de Carlos Paredes residia em poder mostrar ao mundo que se pode tocar guitarra de outra forma para além daquela que Fahey, Blackshawe até o próprio Chasny têm perpetuado. Felizmente, em Asleep on the Floodplain o guitarrista norte-americano (ainda) não embarcou nas bem-aventuranças da guitarra portuguesa ou na construção cornucópica e livre de Carlos Paredes, preferindo a divagação desértica que tem pautado a sua encarnação como Six Organs of Admittance.

Se há algo que cativa em Asleep on the Floodplain é o sentimento de familiaridade e conforto que nos é transmitido mal a rodela começa a tocar. Longe do transe e do drone explorado noutros registos, Chasny optou por fazer algo que o próprio designou de “feliz e bem-disposto”. Um facto que a música não desmente e faz por confirmar, com sucessões de acordes coloridos e harmoniosos, com um travo a deserto norte-americano.

Mas sosseguem os desassossegados: não estamos sozinhos neste passeio. Vamos com Chasny, que se passeia pela guitarra como ninguém e avança com a certeza e segurança de um ancião nas aventuras cantadas de Light of the Light. E contempla-se a si mesmo em exercícios que têm tanto de reflectivo como de (re)conhecimento – vide River Of My Youth.

E nós vamos com ele, pela mão dele e não raras vezes pela sua voz calma e reconfortante. Pode ser um dos discos mais fáceis deBen enquanto Six Organs Of Admittance. É certamente o mais doce. Mas é nesta permeabilidade – que é, apesar de tudo, pouco óbvia na música do americano – que o disco ganha, ao permitir-nos envolver e participar da narrativa (leia-se vida) de Asleep on the Floodplain.