Antes de mais nada, Sea of the Dying Dhow, o debut destes *shels, é um grande disco. Teve apenas o azar de ser lançado na altura errada – em 2007, numa época em que o mundo da música alternativa se preparava para ser embalado nos crescendos e no tremolo picking bonitinho do post-rock.
Ainda assim, parece que os poucos que o ouviram, gostaram. Agora, quatro anos depois, o grupo transatlântico liderado por Mehdi Safa regressa com Plains of the Purple Buffalo, e o que já era grande e bom tornou-se maior e melhor. É daqueles raros casos em que o follow-up a um grande disco é um disco ainda melhor. Ambicioso, arriscado. Um cocktail de estilos tão distantes como ambient e prog-rock/metal. Prog no sentido experimental e criativo da coisa, e não no sentido masturbação-à-la-último-ano-de-conservatório…
São quase 80 minutos, divididos por 13 faixas. A primeira, Journey to the Plains, introduz-nos às planícies do título de forma arrebatadora: começa com a voz de Safa, num murmúrio, para depois entrar um trompete e uma percussão tribal. Logo vem uma guitarra acústica, lenta e tristonha, seguida por uma melodia de baixo. O primeiro minuto ainda não chegou ao fim e já (ou)vimos mais ideias do que em muitos discos inteiros. Aqui, a experimentação foi feita na junção de ritmos e ambientes não só diferentes como em muitas ocasiões opostos.
Há momentos em Plains… que fazem lembrar a pop de tempos que já lá vão (as harmonias vocais na segunda parte da fabulosaButterflies on Luci’s Way, por exemplo). Um rumo a seguir no futuro, quem sabe? Depois temos secções mais post-metaleiras, com os gritos soltos de Safa a comandar. A voz característica do britânico, muitas vezes aqui a cantar e harmonizar sem palavras nem rima, continua a ser um dos pontos mais fortes de *shels. O trompete, que no disco anterior tinha uma presença fugaz e marcante (quem não se lembra daquele crescendo arrepiante em The Conference of the Birds?), está diferente. Aparece, agora, muitas mais vezes, ora a liderar uma ofensiva de camadas de distorção, ora no background, tão bem misturado com o ambiente, que quase passa despercebido.
Com a apropriadamente intitulada Leaving the Plains, despedimo-nos da enorme planície. É mais um “até já” do que um “adeus”– a certeza que fica é a de que voltaremos a visitar e revisitar vezes sem conta estes domínios. Um forte candidato a acabar nos tops de 2011 de muito boa gente…