Sempre que se chega ao final de um ano, é impossível não recordarmos muitas das vozes que se deram a conhecer nesse período temporal. Se o exercício for feito apenas através da lembrança no feminino, é sempre complicado não se imaginar alguns timbres vocais que se revelaram em relação aos demais. Até ao momento, este ano, é marcado pela forma cantada deSharon Van Etten.

Não sendo uma estreia absoluta – isto porque falamos aqui do terceiro longa-duração da artista -, Tramp é um disco que marca, necessariamente, o presente. A abordagem da natural de Nova Jérsia é caracterizada por uma componente sobretudo heterogénea ao longo de todo o álbum.

A cadência sonora e a utilização vocal nunca são marcadas por uma estrutura linear e constante durante as várias faixas, uma vez que é notória uma persistente derivação do tipo vocalíco utilizado. Assim, se no começo se pode dizer que estaremos perante uma demonstração de força, com vozes melodicamente agrestes, ao longo do registo esses mesmos tons passam a ser muito mais lentos, suavizados e melosos.

Tramp poderia ser situado, numa situação limite, entre aquilo que PJ Harvey já produziu no passado e aquilo que, actualmente, fazem artistas como Alena Diane. Contudo, qe não se pense que Sharon Van Etten não acrescenta algo fresco e espaçado de outras artistas. Ao final da terceira tentativa, a norte-americana mostra que pode construir o seu percurso delimitado pelas composições que roçam, em muitos aspectos, os elementos folk.

Como já referimos, as derivações vocais que são utilizadas emTramp acabam por produzir um constante sentimento de perda e carência. Se há discos que não necessitam de uma enorme componente musical para se tornarem valoráveis e credíveis, este será um desses exemplos.

Tramp vale muito pela voz e pela envolvência que Van Ettenconsegue criar em quem a ouve e pela capacidade que se denota em “encher” o álbum. Desta forma, a singer-songwriter acaba por atingir aquilo que nem sempre é possível: partilhar sentimentos tão claros e precisos e, operando desta forma, consegue comunicar e traduzir Tramp num momento de troca entre artista e ouvinte. E, quando assim é, parafraseando umas das suas músicas em queZach Condon participa: We Are Fine.