Depois de atingir a sua tripleta discográfica com “Tramp”, um novo álbum de Sharon Van Etten teria sempre como ponto de partida o entendimento de se seria possível atingir novamente uma autenticidade tão diferenciadora. Não o conseguiu.

Ao quarto álbum, Sharon Van Etten continua a transmitir de forma muito invulgar toda uma honesta representação daquilo que tanto nos move: os sentimentos. Contudo, ao contrário daquilo que se sucedia em “Tramp”, a sua obra-mestra, essas sensibilidades parecem estar mais escondidas num menor uso da sua voz. A americana volta a ecoar sensual, bela, mas o seu timbre surge tímido em excessivas, e por vezes fracas, instrumentalizações, como no caso de “Your Love Is Killing Me” ou “Nothing Will Change”.

A enchente sonora que recebeu “Are We There” acabou por ferir aquilo que tanto lhe apreciamos: a jovialidade e a pureza da sua voz. Dessa forma, torna-se estranho que o seu grande trunfo acabe por ser subjugado em fraqueza perante tanto arranjo e acrescento instrumental. Mesmo os picos que utilizava para mover as palavras, para as tornar mais ou menos certeiras, aparecem neste longa-duração menos frequentes. Reflexo disso: menor emotividade na maior parte dos temas.

Quando a escutamos solitária, com a sua guitarra acústica e apenas acompanhada ao piano, sente-se automaticamente o empenho e a certeza das suas palavras, como ficam evidentes em “Afraid Of Nothing”, ou quando surge confessional em “I Know”. Assim, ao contrário daquilo que se sucedia em “Tramp”, não se assiste a uma unidade no seu alinhamento, e são momentos como “I LoveYou ButI’m Lost” que acabam por sobressair, porque aqui se encontra a tal singularidade que se lhe reconhece. A sua voz não se dissipa, é totalmente audível e é o motor de todo o tema. E é neste contexto que lhe reconhecemos a sua maior virtude.