Ninguém hipnotiza melhor do que os Shabazz Palaces. Black Up, o disco de estreia, negro e cheio de melodias etéreas, com um toque tribal para abalar os corpos, é uma das grandas propostas de hip-hop deste ano, pelo que seria impossível não ver como é que o negro dos norte-americano se apresentava no Maus Hábitos, no Porto.
Menos monumental do que o duo da Sub Pop merecia, a sala portuense falhou no mais importante: no som, precisamente onde os Shabazz Palaces pareceram não apresentar, mas nunca saberemos. Se alguns membros do público beneficiaram da experiência quase-real do concerto, e aproveitaram isso para dançar e para tirar o melhor partido da actuação, muitos ficaram a olhar para a banda como um burro para um palácio.
As avaliações arquitectónicas começaram com Youlogy, com direito a uma bela coreografia – elemento utilizado pelos americanos várias vezes ao longo do concerto –, e cedo Tendai Maraire se fez às suas congas, enchendo o espaço cavernoso com percussões. Sempre sem falhas e compenetrado nas suas tarefas, o duo ia usando os seus samples para construir as texturas da sua música, de mil e uma histórias contadas por Palaceer Lazaro, o mestre de cerimónias da banda, se é que se pode dizer que o seu formato pouco tradicional tem um.
Piscando os olhos cobertos por óculos escuros ao primeiro longa-duração, passando por músicas como Recollections of the Wrath, foi com um quarto do público inicial a resistir à inércia de um som aleijado e a ficar para o fim que os Shabazz Palaces fizeram as grandes apostas de Black Up, da qual se destacou Free Press and Curl, com a audiência a abanar-se ao lento ritmo das frequências graves.
Foi uma aposta ganha, que servi para que se exigisse o encore. Nem os óculos escuros conseguiram esconder os rasgados sorrisos de Lazaro e Maraire quando regressaram ao palco para recolher os lucros: uma noite ganha a custo de muito suor, muita coreografia e de muita retórica. O hip-hop nos meios alternativos exige definitivamente mais do que umas dançarinas e algum bling-bling. Os Shabazz Palaces têm que fazer a própria música, carregar o próprio material e de ganhar os próprios concertos, mesmo quando tudo parece apontar uma derrota.
As melhores apostas ganham-se mesmo contra todas as probabilidades e, que nem dois agentes secretos do MI6, à 007, os norte-americanos fizeram tudo para tirar um poker de ases da mesa que tinham e conseguiram.