Com uma precisão atenta, dopada de mil e uma histórias, os Shabazz Palaces ergueram um pequeno edifício com os ornamentos correctos. São a prova sonora de que a grandiosidade não se mede pelo número de assoalhadas, de andares, nem sequer pelos metros quadrados. É isso Black Up, um monumento aos anos dourados do hip hop, com a capacidade de o revisitar, sempre em câmara lenta.
Pedrados das suas histórias, não é sem uma dose enorme de psicadelismo que, nas suas batidas lentas, contra-dançáveis, que o duo norte-americano consegue elevar a música no minimalismo das suas melodias (apenas um elemento das suas produções), na surdina das suas vozes aos níveis épicos de um Blazing Arrow dos então imprevisíveis Blackalicious. Algo que só atingem graças a um jogo de cintura que não se fica pelas batidas do hip hop, que insiste em esvoaçar rente aos telhados de um trip-hop, sem nunca deixar de piscar o olho a uma vizinhança pouco provável como o tribal e as suas congas.
Black Up tem algumas das melodias mais deliciosas com que o hip hop me poderia hipnotizar este ano e o meu único desejo é que, na verdade, esteja enganado no que diz respeito às capacidades de embevecer que os Shabazz Palaces descobriram num género tão duro. Estes rapazes foram buscar bem fundo às suas raízes aquilo de que precisavam para fazer música de negros e ainda mostrar que isto é o século XXI, por isso, nas suas palavras, “black is me, black is us, black is free”.
Este palácio é de todos. Façam favor de entrar e de aproveitar as belezas das salas Are You Can You We You (Felt) e Swerve the Reeping of All that is Worthwhile (Noir Not Withstanding), com a sua voz cheia de alma. Pelo sim e pelo não, levem uma tenda para dormir no jardim. Eles não se descuidam naquilo que diz respeito aos pormenores.