À saída do 49 da ZDB (bar satélite da Galeria Zé dos Bois), vemosPedro Geraldes e Hélio Morais dos Linda Martini. Um dia depois do seu segundo concerto no Lux, não deixa de ser uma curiosa e virtual passagem de testemunho para os Sensible Soccers. O estilo, a carreira e o reconhecimento são completamente diferentes, mas são dois dos projectos que mostram a riqueza, a diversidade e a qualidade da música portuguesa actual.

A dar os primeiros passos estão os Quelle Dead Gazelle. Como este que vos escreve não acompanhou a pontualidade dos concertos (assumir que o programa das festas começaria uma hora mais tarde não ajuda), ficam as desculpas por não termos visto a primeira parte. Na compensação possível, deixamos o link para o concerto dos God Is Astronaut, onde a abertura dos Quelle Dead Gazelle deixou boa impressão.

Primeira música dos Sensible Soccers e temos uma sala principal da ZDB completamente cheia. Resultado natural: a acústica que já não é fascinante, perde-se ainda  mais (especialmente para aquela malta que, por falta de cuidado, chega tarde – mea culpanovamente). Ponto positivo: é sinónimo de que a banda está, neste início de ano, a ter a atenção que merece.

Os Sensible Soccers podiam ser os Darkside portugueses. Podiam, se multiplicássemos por dois as cordas (onde a guitarra é, por vezes, tocada com arco) e as manipulações electrónicas deNicolas Jaar e Dave Harrington. Podiam, se não tivessem nascido antes. Podiam, se a sensualidade dos solos de guitarra fosse também aqui proeminente. Enfim, podiam, mas não são. Diferenças à parte (e ainda são consideráveis), há algo que une os dois projectos: a capacidade de, fazendo música que é desafiante, experimental e necessariamente pouco óbvia, não se alienarem da melodia e da diversidade de impulsos que esta pode proporcionar. Por outras palavras, não fazerem música chata.

O quarteto apresenta momentos mais dançáveis e fritos, como “Sob Evariste Dibo”, e outros mais lentos e atmosféricos, como “Manuel” ou o breve “Maria Rosa”, dedicado à filha de um dos elementos da banda, o recém-baptizado Eduardo Botelho (“Edu para os amigos”). São todos retirados de 8, o longa-duração de estreia que dominou inevitavelmente o alinhamento, apesar da passagem pelo pequeno EP Fornelo Tapes Vol. 1, onde se encontram as até agora raras incursões vocais (que não destoam nas viagens sonoras que encetam). Com parca comunicação com o público, mas um pontual sentido de humor, a satisfação dos músicos ficou patente nas palavras curtas e grossas de Manuel Justo (Né): “A ZDB é do caralho (elogio) e nós enchemos esta merda toda (novo elogio)”.

No encore, não houve “Fernanda” (até há pouco, o tema mais conhecido do EP homónimo), nem o viciante “Twin Turbo” (a música que os apresentou a muito boa gente, cortesia do vídeo oficial da bola de ouro a Cristiano Ronaldo). Houve apenas essa verdadeira odisseia musical de cerca de 10 minutos que é “Sofrendo por Você”, com aquele brutal teclado psicadélico, proveniente de tempos imemoriais.

Enfim, 2014 tem tudo para ser o ano da explosão dos Sensible Soccers. O concerto da ZDB foi mais um passo no caminho certo.