Scout Niblett regressou, na passada quarta-feira, à Galeria Zé dos Bois (ZDB), após uma primeira visita ao nosso país, no ano que passou. Recebida por uma sala esgotada, a singer-songwriter britânica revisitou alguns dos seus álbuns editados, tendo ainda presenteado o público lisboeta com algumas canções de “The Calcination of Scout Niblett”, com lançamento previsto para Janeiro do próximo ano.
A inglesa fixada nos Estados Unidos visitou Portugal para dar dois concertos – no dia anterior, tinha estado no Passos Manuel, no Porto -, desta vez, sem a companhia do baterista Kristian Godard, mas sempre muito esperada, ou não fosse o aviso no nome da sessão musical da ZDB em que estava incluída: “You_come_at_the_queen,_you_best_not_miss_sessions”.
De sapatos gastos, como quem percorreu inúmeros trilhos até ali chegar, Emma Louise Niblett apresentou-se sozinha em palco, despida de enredos musicais, carregando apenas a sua guitarra Mustang. Consigo, trouxe inquietude na voz e um sorriso de menina-mulher que a tornam figura de culto lado a lado de nomes como PJ Harvey ou Cat Power.
Na noite em que o país tremeu, e numa ZDB a rebentar pelas costuras, Scout Niblett também soube estremecer o “aquário” do Bairro Alto ao som de músicas como “Just Do It”, “Dinosaur Egg”, “Your Beat Kicks Back Like Death” ou “Kiss” (que com ou sem Bonnie Prince-Billy desarma qualquer ouvido que se preze). Como já é hábito, passou ainda por uma cover do hit dos anos 70 “Uptown Top Ranking” e por pouco mais do que o refrão de “Say My Name” das Destiny’s Child ou mesmo “I Trusted You” do entertainer Andy Kaufman, mostrando que qualquer canção pode ser transformada numa versão crua e exposta, como mais ninguém sabe fazer.
Ora cândida, ora visceral, entre sussurros e gritos, Scout Niblett é minimal, mas completamente inteira, conseguindo fixar os olhos silenciosos de quem está a ouvi-la, do início ao fim da sua actuação. Numa postura quase amadora, oscilando entre dedilhados e riffs simples, e algumas vezes a ocupar o lugar de baterista, Scout Niblett transporta-nos para uns anos 90 de alma suja, visitando pedaços de blues trágicos, de uma ingenuidade surpreendente.
Lamentou, humildemente, a ausência de um encore muito ansiado, prometendo voltar para o ano, acompanhada por mais músicas e por um baterista (para o lugar do qual existe um repto lançado no seu Myspace). A nós, resta-nos esperar pela promessa cumprida e pelo lançamento de The Calcination of Scout Niblett”, o quinto álbum da artista britânica, de edição marcada já para Janeiro de 2010.