A bordo de uma digressão europeia que vem esgotando variadas salas por onde tem passado, os Satyricon chegaram a Lisboa depois de uma imensidão de tempo em que estivemos sempre arredados do seu poiso temporário. Aparentemente, a espera teve os seus frutos e serviu para que estejamos mais capacitados para entender todo este mundo musical por onde Satyr e Frostcaminham hoje em dia.
“Voices of Shadows”, faixa introdutória do novo disco homónimo, serviu de mote e também para se ter visto uma das poucas vezes em que Satyr empunhou a sua guitarra. Mas foi logo ao segundo tema,“Hvite Krists Død” do longínquo “The Shadowthrone”, que se percebeu que já nessa altura os noruegueses pretendiam fazer algo diferente, mesmo que nesse momento ainda não estivéssemos sintonizados com esse facto. Já aqui se notava que os cortes abruptos de ritmo e o conjunto imenso de temáticas dentro de uma faixa seriam algo que nunca os iria abandonar, tudo isto concretizado através de uma voz cortante, gélida e nada confortante, muitas vezes mais falada do que cantada.
Depois de “Now, Diabolical” e “Black Crow on a Tombstone”, os Satyricon serviram novamente o seu mais recente registo com “Necrohaven”, mas também com a capacidade de regressarem ainda mais ao passado com “Forhekset” do memorável “Nemesis Divina”. Ao circular por quase toda a discografia, notou-se que realmente nunca seguiram o caminho mais fácil e que, porventura, isso até acabe por explicar a longevidade do duo, desta feita, transformado em sexteto. Desafio e ruptura são adjetivos que não lhes escaparam e isso acabou por os tornar ainda mais cativantes, percebendo-se através do alinhamento apresentado, as várias fases e que a criação de algo contundente marcou cada um dos seus discos. Como tal, não é de admirar que se olhe para o palco e se pressinta a existência de honestidade, atitude e, essencialmente, muito “nervo”.
Ritmo, quebras de tempo, refrões orelhudos, “groove”, interlúdios e outras tantas palavras seriam certamente pouco usuais numa banda que em tempos se moveu dentro do Black Metal. Contudo, tal como Satyr referiu, uma malha como “The Infinity of Time and Space” define e faz um compêndio de todos estes momentos e a forma como se posicionam actualmente.
Sempre muito perto da borda do palco e com uma proximidade com o público, os Satyricon estão realmente diferentes e, quem os tenha visto no Seixal há mais de dez anos, percebe que tudo mudou. Não só musicalmente, mas também a postura é diferente. Satyr empunhando o seu tridente e Frost por trás do seu enorme “bicho” de pratos e tambores, pareceram mais satisfeitos e genuínos nas palavras. Para o fim, ficaram a tripleta de pérolas com “Mother North”, “Fuel of Hatred” e a acabar K.I.N.G.”.
Tomado pelas memórias, talvez muitos tenham regressado aos tempos em que com 13 ou mais anos conviveram pela primeira vez com os Satyricon e com outras formações desses anos, e recordar que isso tenha, quiçá, mudado as nossas vidas. Todo aquele imaginário que nos transmitiram nessa altura, regressou e, agora talvez estejamos mais susceptíveis para aceitar aquilo que representam hoje em dia.
Na primeira parte, os Chthonic trataram de estimular a dúvida de como é que é possível que um conjunto que não tem um pingo de originalidade consiga abrir para outro que a cada álbum se tenta reinventar. Vindos de Taiwan, este quinteto demonstrou que ainda é possível repetir fórmulas gastas de vozes guturais com agudos irritantes, riffs ultrapassados e batidos associados a teclas pouco convincentes a tentar dar um ar sinfónico a algo que carece de tudo o resto.