Com apenas trinta minutos de duração e cerca de uma dezena de canções, a passagem de Samara Lubelski por Lisboa foi mais umshowcase do que um concerto propriamente dito. Se atendermos a que a entrada no Lounge era gratuita, estão todos os contornos reunidos para ter sido apenas uma pequena performance.
Num percurso musical que envolveu uma série de projectos, dos quais talvez Jackie-O Motherfucker seja o mais conhecido, ou colaborações com gente importante como Thurston Moore, Samara dedicou-se a uma carreira em nome próprio a partir dos inícios deste século. Ao invés do violino nos discos do Sr. Sonic Youth ou do baixo no projecto Chelsea Light Moving, a cantautora apostou a solo apenas na guitarra.
Assim sendo, o que se ouviu no Lounge foi um conjunto de pequenas peças minimais. A guitarra apareceu com dedilhados arrastados e tristes, alternados apenas com breves momentos de distorção e electricidade. A acompanhar, esteve a voz sussurrada de Samara, colada ao microfone, entre a fragilidade e a urgência. Urgência que esteve também na forma como a intérprete se entregou os temas, sem espaço para grande comunicação com o público, excepto breves e tímidos agradecimentos ou um desabafo (e um breve sorriso) quando, no início de um tema, um pequeno erro a fez recomeçar.
O Lounge, com capacidade inferior a uma centena de pessoas, foi demasiado pequeno para a quantidade de interessados em ver Samara Lubelski, especialmente dado o privilégio de o poder fazer sem pagar um cêntimo. O resultado foi um espaço muito quente, quase claustrofóbico, em que a timidez e/ou desconforto de Samara no papel de mestre-de-cerimónias foi condizente com um ambiente pouco intimista. A tour segue agora por outros locais do país: Guarda, Viseu, Coimbra e Guimarães, talvez com condições mais aconchegantes para se ouvirem estas canções, algures entre a candura folk e a desconstrução pontual e discreta através do ruído.