Diz Seldon Hunt, em Blood, Sweat and Vinyl (documentário a que tivemos o luxo de assistir, qual cinema, no Amplifest), que o sludge/doom/stoner/post-whatever é o equivalente actual à música clássica. A comparação não é de todo descabida. E mais verosímil se torna quando ouvimos o novo trabalho dos Rwake.

Rwake que se pronuncia wake. O ‘R’ colocado no princípio deve-se a uma dislexia momentânea, durante uma trip de dextrometorfano, em que um dos membros da banda decidiu acrescentar uma consoante à palavra. Para sempre ficou. E, diga-se, este é o verdadeiro talento dos homens do Arkansas. Não propriamente o facto de se drogarem avulso, mas, sim, a habilidade e destreza com que adicionam o desconexo ao estático.

Rest é um notável exemplo de como se pode desconstruir os vícios de determinado estilo musical, munindo-o de múltiplas estruturas, instrumentos e passagens que são tudo menos óbvias. A atmosfera densa e soturna, trazida pela singular voz de CT, não se deixa ficar pelos ritmos lentos ou pelos riffs tonalmente graves. A fertilidade com que os Rwake conseguem edificar faixas que se estendem bem para lá dos dez minutos fica brilhantemente registada em The Culling – faixa que, durante um quarto-de-hora, se desfaz e, em simultâneo, se ergue, arrastando quem a ouve para um carrossel entre uma melancólica guitarra acústica e uma hipnotizante progressão rítmica, onde até solos ao melhor estilo hard rock se fazem ouvir.

Tendo os Minsk instaurado um hiato na sua carreira, os Rwakesão, provável e actualmente, a banda mais audaz no campo do sludge/doom – não é inocente o facto de Sanford Parker servir como produtor para este disco, ele que foi membro fundador dos Minsk. Já nos tinhadm dado o aviso com Voice of Omens e, agora, confirmam-no peremptoriamente com Rest.