Com uma periodicidade bianual de lançamentos, os Russian Circles vinham movendo-se desde “Geneva” para a estagnação e para a transmissão da ideia de que aquilo que melhor poderíamos conhecer deles estava em “Station”. “Memorial” vem mostrar o quanto poderia ser errada essa concepção e que afinal o trio ainda é capaz de nos surpreender.
Contudo, este novo pulsar dos americanos faz-se com algumas mudanças. Desde logo, com a melodia que percorre todo o disco e que já pouco era sentida. Depois, a capacidade para serem novamente imprevisíveis e a tentativa de fazerem algo diferente: uma realidade que não fosse apenas camadas de peso e efeitos, mas que culminasse em algo menos directo e que puxasse pela necessidade de cada um explorar os temas até ao seu ínfimo e conseguir encontrar algo não perceptível anteriormente.
“Geneva” e “Empros” indicavam que parecia existir alguma dificuldade em encaixar todo aquele turbilhão de efeitos, o que, estranhamente, e ao contrário do que seria suposto, acabava por tornar todo o som muito mais superficial e pouco absorvente. “Memorial” recupera o sentido de urgência de coordenação de todas as componentes sonoras e, uma faixa como “1777”, é a melhor amostra desta premissa, onde a coesão de melodia e carga sonora coexistem naturalmente, apesar de o quinto longa-duração cometer a heresia de tornar o baixo muito mais despercebido.
Mas não se pense que aqui apenas encontramos homogeneidade. Pelo contrário, a aptidão e a disposição que apresentam para experimentar e sair do casulo é de louvar e o tema título comChelsea Wolfe, apesar de pouco se sentir o selo dos Russian Circles, mostra que estão prontos para no futuro percorrerem outros caminhos. Talvez por isso, e por ser a última música, tal como num filme com o final aberto a diferentes interpretações, deixa a sensação que poderá escancarar a porta a uma sequela e a novos pergaminhos sonoros. Porventura os atalhos díspares por onde nos levam “Cheyenne” e “Burial” concentrem aquilo que os americanos demonstram agora engenho para gerir. No fundo, como se já não tivessem tão interessados em fornecer a ração completa, mas mais centrados num saciar progressivo das necessidades ao longo da totalidade do percurso.