Foi uma semana intensa para os seguidores do post-rock em Portugal. Desta vez, as emoções fortes foram impulsionadas pelo aguardado regresso dos norte-americanos Russian Circles, recebidos por uma MusicBox cheia e com um público bem heterogéneo. A abrir estiveram os anfitriões mais frequentes das visitas das bandas de post-rock internacional, os Katabatic.
A banda portuguesa escusa grandes comentários, pois já tem mais do que cartas dadas no meio e cumpre sempre com eficácia o que lhe compete. Começou a sua prestação praticamente às 22 em ponto e, apesar dos pergaminhos que possui, ainda foi capaz de surpreender alguns presentes. Como disse um casal sui generis que viu ambos os concertos ao meu lado, “Isto é bom! Como é que se chama? Katati?”, “Não, acho que é Katabata”. Mas, singularidades aparte, durante pouco mais de meia hora os portugueses ofereceram um concerto praticamente incólume, mostrando uma cada vez maior consistência em palco e arrancando mesmo entusiasmados aplausos, como em The Battle Between Lapiths and Centaurs. Como sempre, o guitarrista Tiago e o baixista João destacaram-se pela energia que imprimem aos concertos.
Mas era o regresso de Russian Circles que tinha atraído a maioria dos presentes ao local e, pelas reacções, ninguém pareceu ter saído minimamente insatisfeito. Durante mais de uma hora os norte-americanos percorreram os três álbuns que editaram, com especial incidência nos dois últimos. Harper Lewis deu o mote e agarrou desde logo o público para a viagem que se seguiu, com momentos altos em músicas como Malko e Geneva, ambas do mais recente registo (Geneva, 2009), ou Young Blood e Carpe, com que finalizaram a prestação antes do regresso para um encore a pedido de muitos aplausos e gritos. Station foi o bónus que, à semelhança das anteriores, pôs alguns pescoços a pender e parece não ter sido suficiente para acalmar as hostes, já que depois do abandono dos músicos do palco ninguém arredou pé nem cessou de aplaudir, levando mesmo alguns presentes a encenar um momento peculiar, mais característico dum concerto dos Pearl Jam, ao gritar com ímpeto “We want more!” (não fosse a desistência dos Russian Circles e ainda tínhamos “Olé, olés” ou, pior ainda, “Portugal!, Portugal!”). Seja como for, tudo isto só sublinha o balanço mais do que positivo da prestação da banda americana.
É difícil falar de um concerto de Russian Circles sem sublinhar quão bons músicos são. O baterista é quase perfeito (e o que ouvimos em gravação fica ainda melhor ao vivo), e o guitarrista é o que se sabe, com um domínio e ecletismo técnico singulares. Tudo isto faz dos norte-americanos uma das bandas mais interessantes do post-rock actual, combinando com mestria algumas das marcas do estilo com elementos mais pesados e rápidos, alguns de grande elevação técnica.
No fim, o consenso tendeu para que este concerto tivesse superado o da estreia de 2008, deixando apenas a sensação a alguns dos presentes de ter durado menos do que desejavam.