No meio desta onda retro, que tem preenchido os cartazes festivaleiros e feito palavras como psicadélico gastarem-se de tanto uso, nem tudo é flor que se cheire. Há cópias mal feitas, outras que aparecem aí só porque é moda e fica bem deixar crescer a barba como um fã antigo dos Fleetwood Mac. Claro que a bolha rebentará em breve e com a mesma velocidade com que apareceram, que nem cogumelos ou ervas daninhas, desaparecerão na espuma dos dias até ao próximo hype.

Os Royal Thunder, pelo contrário, é possível que tenham vindo mesmo para ficar. Neste segundo disco, verificado pela Relapse (das editoras mais inteligentes que andam por aí, sabem sempre em que direcção o vento sopra), vincam a sua postura clássica. Quem ouve Mlny Parsonz, baixista e vocalista, pensa numa Janis Joplin afogueada. Não é para todas, é mesmo para quem pode eMlny (dá sempre jeito ter uma miúda numa banda, nem que seja pelas fotos promocionais) pode. Canta-nos naquela intensidade que os desgostos de amor alimentam, tema central deste disco, e fá-lo com um soberbo swing. Atrás, ou ao lado, como preferirem, uma secção rítmica dinâmica, magnética, onde a guitarra de Josh Weaver tanto brinca à simplicidade do rock de arena como sobe o jogo para níveis complexos técnicos. Aí (escutem bem o solo de “Floor”) percebe-se o motivo de os Mastodon serem quase sempre mencionados quando os Royal Thunder são tema de conversa.

É um disco pouco linear e melhor elogio “Crooked Doors” não poderia receber. Não estamos sempre lá no cume a pedalar numsprint hard rock, mas também não andamos num constante arrasto vale abaixo agarrados à balada blues por vício. É um excelente apanhado da cartografia acidentada que o género oferece, onde tanto sentimos a paixão rubra de Steppenwolf, como o legado eterno dos Led Zeppelin.