Há os que falam de deus ser astronauta e há os que fazem música para ele — a diferença é abismal e os Rosetta, com mais um disco, provam-no. É a diferença entre se falar sobre os céus e sobre lhes tocar, é a diferença entre falar sobre voar e sobre fazê-lo sem tirar os pés da terra. A Determinism of Morality foi o mandamento da excelência enquanto executantes da banda norte-americana, sendo que a composição já tinha encontrado o seu ex-libris em Monument, a faixa de encerramento de Wake/Lift. ParaThe Anaesthete, os desafios de belzebu à criatividade e inspiração destes punks do metal espacial posicionam-se na produção do disco — e é aqui que surge o ponto baixo mais gritante do novo disco.
Os Rosetta tiveram no álbum anterior um marco na carreira, em que a produção do disco se alinhou perfeitamente com as novas composições e com o salto qualitativo da banda. Mesmo que ao nível de composição não se atingissem os níveis épicos deMonument, é inegável que o quarteto de Philadelfia tinha atingido um novo patamar, ao qual a clareza de todos os sons, a perfeição da bateria e a forma como os outros instrumentos se alinhavam à volta do rugido de Mike Armine só vinha ajudar. The Anaesthetetem neste pormenor o seu elo mais fraco.
Ainda assim, desde a descolagem hardcore ao abraçar, carregado de delays de guitarra, o vazio orbital, o novo álbum de Rosettatraça firma as diferenças da gravidade que se sente no seu som. Malhas como Oku / The Secrets e Myo / The Miraculousdemonstram o peso da aceleração sobre os corpos, com uma influência negra e violenta como até agora só se tinha depreendido da música dos norte-americanos. A troca dos fraseados de guitarra pelo riff é uma solução que, ainda assim, não anula o abrandamento gravitacional dos delays e reverbs que caracterizam o som do guitarrista Matt Weed.
The Anaesthete existe nos extremos a que os Rosetta têm vindo ameaçar chegar. Neste registo, tocam-lhes: são hardcore e metal e são post-rock e ambientais (ouça-se In & Yo / Dualities of the Waye Hodoku / Compassion). Devagar, mais vamos conhecendo sobre o vazio que rodeia o universo da banda de Philadelphia. Não existe deus — a beleza, a violência, a luz e a sua ausência existem nas suas acções. Se nos esquecemos de ser moralmente determinados, os Rosetta depositam a fé toda de volta na ciência e no homem: está claro que se pode ser um punk com inspiração divina.