Com Rodrigo Leão e os seus espectáculos no CCB não se pode afirmar que à terceira ou à quarta é de vez. Pelo contrário, por quatro vezes consecutivas conseguiu a proeza de esgotar todas as noites em que esteve no Grande Auditório. Apesar de ter uma nova compilação que consagra as vozes que o têm acompanhado ao longo dos anos, o destaque foi dividido com o último disco de originais, A Montanha Mágica.
Esta nova apresentação tinha o condão de prometer novos arranjos para os temas. Logo de início, com A Praia do Norte, se comprovou que, se no passado o órgão de Rodrigo Leão parecia não demonstrar toda a sua importância, desta feita, notou-se que são as suas teclas que ensaiam a predominância de todo o caminho sonoro traçado. Mas nem só dele se extraiu comoção. Pelo contrário, o acordeão de Celine de Piedade granjeou uma personalidade intrigante ao ser perceptível que, com apenas um instrumento, se conseguiu dar corpo a sonoridades tão diferentes e, Tardes de Bolonha ou O Tango dos Malandros, seriam muito mais vazias sem ele.
Rodrigo Leão apresentou-se quase como um manipulador de emoções. Com as suas melodias de embalo pausado, sentiu-se que não se objectivava um final rápido. Não existiu rebuliço e tantos temas como Mar Estranho, O Baloiço ou A Revolta, assumiram-se como o leito de um rio que corre calmo e esguio. Desta forma se desenvolveram as suas composições ternas, percorrendo variadas terras e caminhos, sem corrupio, mantendo o caudal das águas sem intensidades desnecessárias.
Com o novo Songs, ficou claro, mais uma vez, que apesar de a importância estar nos instrumentos, também as vozes vêm sendo uma incorporação marcante e constante ao longo dos anos. Como tal, como convidados surgiram Elisa Rodrigues para interpretarThe Long Run e Lonely Carousel, a par de Gomo para cantarCathy. Contudo, seria Scott Matthew a verdadeira voz desta noite.Terrible Dawn, Happiness e Incomplete evidenciaram dois pensamentos. Se, por um lado, os temas unicamente instrumentais são de uma grandeza maior do que os cantados, por outro, provou-se que quando celebrados pela voz original soam melhor do que quando assim não é.
Para encerrar a noite de uma forma diferente, o australiano trouxe-nos um original de Charlie Chaplin, Smile, bem como Enemies,um tema inédito composto em conjunto com Rodrigo Leão. Mais que um simples concerto, a sua recorrente presença em Lisboa combinou o trabalhar da música com o desenrolar de uma história. Contudo, ao contrário do que é usual, esta surgiu tocada e não falada. No fim, houve quem gritasse Bravo.
Na primeira parte, Os Poetas apresentaram um contexto em que com a recitação de poemas, as vozes se acabavam por muitas vezes se sobrepor aos instrumentos, tornando-se difícil acompanhar tudo de forma igualitária. Declamando maioritariamente poemas de Mário Cesariny, acompanhados por órgão, violino, acordeão e violoncelo, notou-se uma força e urgência, mais conferida pelas palavras do que pelas componentes musicais.
Os Poetas não deixaram de ser intensos e dramáticos, mas se aqui a poesia se expandia maioritariamente nas palavras, no momento seguinte, com Rodrigo Leão, esta seria protelada pelos instrumentos.