O cancioneiro português está cheio de provérbios, falácias, silogismos, promessas e dizeres que numa frase fazem a súmula do que é suportar o processo de busca, o desespero da espera e o momento em que finalmente nos deparamos com o há muito procurado. “Quem espera sempre alcança”, “a paciência é uma virtude”, “quem espera, desespera” e por aí fora; tudo isto são ditados que pairavam certamente pela cabeça dos muitos que subiram até ao Santiago Alquimista para a actuação dos Riverside.

Sem banda de abertura, como havia sido anunciado, a actuação esperava-se longa, algo também já denunciado pela organização. Ora, tendo em conta que os Riverside são um dos estandartes mais celebrados do rock-progressivo actual (esse estilo hibrido, mas que é unanimemente definido como “aquele género onde as músicas demoram 20 minutos e levamos com 3 solos de guitarra”) e que iriam ter cerca de duas horas para mostrar o que valem, estavam reunidos motivos mais que suficientes para que a noite – surpreendentemente fria nos dias que correm – fosse bastante proveitosa. O público respondeu ao apelo e embora a casa não tenha enchido, juntou-se uma agradável moldura humana para dar as boas vindas aos polacos.

Igualmente surpreendente foi a forma como se cumpriram todos os horários: 21h30 e lá estavam os polacos, no seu lugar em palco, rodeados pelas capas dos seus quatro álbuns e prontos a servirem-nos de uma rajada temas que compõem 10 anos de carreira. Como qualquer fã de prog-rock sabe (chamemos-lhe assim a partir de agora), este é um género que se ama ou odeia. Diga-se de antemão que ninguém pode acusar o quarteto de falta de técnica – que na noite de sexta-feira foi acompanhada de um belíssimo som -, mas é inevitável que a pergunta se imponha: será o prog-rock tão pertinente nos anos 2000 da mesma forma que o foi nos idos de ’60 e ’70? E terá o género conquistado mais amantes ou, pelo contrário, foi ficando para trás, limitado a um nicho de gente sedenta por minutos que se esticam quase a chegar ao enfado?

A julgar pela forma calorosa como Lisboa recebeu os Riverside, a resposta é parcialmente dada: ainda perduram os fãs incondicionais de solos bonitos e harmónicos, órgãos mais altos que a Sé de Braga e uma voz que tem tanto de melancólico como de embalo. A outra parte, a da pertinência e importância será sempre relativa e deixada a cada um. Este que vos escreve diz-vos na sua sincera opinião que, como em tudo, há bandas que fazem as coisas melhor do que outras. E os Riverside até começaram da melhor forma e conseguiram evitar o eterno problema do segundo disco (com Second Life Syndrome a merecer uma vénia); mas depois disso acabaram por se deixar levar pela repetição nos exercícios seguintes.

Um facto que, obviamente, não deixa de se sentir em palco: a mestria está lá, a técnica é irrepreensível, mas a sensação de “onde é que eu já ouvi isto?” mantém-se um pouco mais do que seria de esperar. E quando os condimentos que o rodeiam são uma lugubridade palpável (resultado da própria composição que vai beber às regras dos Marillion) e uma sensação de música a lume brando (ou a meia luz) e muita melancolia, esta ideia torna-se ainda mais premente.

Mas a verdade é que quem gosta, gosta sempre, mesmo faltando um toque de originalidade e a audácia que deveria definir a música progressiva. Solos de guitarra não enchem barrigas, mas não podemos deixar de fazer o elogio ao guitarrista Piotr Grudzinski, mas acima de tudo a Michal Lapaj, que conseguiu arrancar do seu órgão o arrojo e uma (falsa) sensação de épico que por vezes falta à música dos polacos e que no encore com Reality Dream III eForgotten Land isso mesmo ficou claro. E, tal como se discutia no final do concerto, a voz de Mariusz Duda é por vezes demasiado emocional e melancólica – e um grande, grande contraste com a disposição de sexta-feira à noite que ele trouxe para palco.