Os Ritual – a banda hardcore alemã e não a formação sueca de rock progressivo com o mesmo nome – editaram o seu terceiro longa-duração e com ele subiram a novos patamares musicais, apresentando temas mais elaborados e com maior sentido dinâmico, sem perder a potência com que nos atingem os tímpanos desde 2006. Com uma identidade melhor definida e níveis de intensidade e execução mais elevados, Paper Skin dá mais alguns passos na direcção mais rock que o quarteto germânico procura dar à sua abordagem hardcore. Neste registo, a estrutura das canções revela-se menos dependente dos riffs em si e assenta mais na densa atmosfera criada pelas guitarras texturizadas, o que resulta num disco mais lento e mais íntimo, bastante sintonizado com o tom pessoal reflectido nas letras.
Paper Skin surpreende sobretudo pelo seu carácter inteligente e pouco convencional – o mesmo tipo de experiência que se tem ao ouvir Refused ou Snapcase pela primeira vez. A semelhança entre estas bandas não reside propriamente na sua sonoridade mas na abordagem desprendida dos cânones do estilo musical em que se inserem e do qual se recusam a ficar reféns. Prova disso mesmo é a incorporação de instrumentos como o harmónio, o sintetizador e o contrabaixo em diversas passagens.
Mesmo considerando que o antecessor Beneath Aging Flesh And Bone se mostrava menos estimulante e mais musculado, a evolução em Paper Skin não significou uma ruptura com o passado da banda, simplesmente alargou os seus horizontes de forma consistente e atingiu um frágil equilíbrio entre agressividade e melodia, ambos convivendo quase sempre em simultâneo. E apesar deste tom mais profundo, complexo e experimental, a banda oriunda de Recklinghausen consegue manter o peso, a energia e atitude punk.
Em pouco mais de vinte minutos os Ritual deixam transparecer influências díspares quanto baste: desde La Dispute e Touché Amoré, em The Coldest Shoulder, a Deftones, em Distant Glance, passando por The Chariot, em The Great Decay – faixa que denuncia a assumida inclinação para um hardcore com trejeitos roqueiros. Por seu turno, o tema This Shell Has Got A Soul Againtem tanto de estranho como de inventivo: lento e escuro, mistura jazz e blues com uma linha de voz abrasiva, e apesar de não encontrar paralelo no resto do disco nem por isso soa despropositado. Mas nem tudo é experimentação em Paper Skin e também existem temas mais “in your face”, nomeadamenteDunkerque e Rusty Fingers Touching Nothing. O ponto alto, se é que se pode definir, atinge-se com Absolute Devotion, um tema envolvente que agarra desde os primeiros segundos com um riff inspirado e cheio de balanço.
Trata-se de um álbum que deixa água na boca por aquilo que promete acrescentar às actuações da banda ao vivo e prova ser um caso em que a ousadia na inovação dá um contributo valioso ao hardcore: torna-o mais versátil sem o desvirtuar e mostra que ainda há muito para ser explorado.