Apostando na suposta pontualidade britânica, Richard Hawley surge em palco vestido de negro, acompanhado pelos restantes elementos de uma banda que, o próprio faz questão de apresentar como parte integrante e preponderante do seu projecto. De facto, ao longo de quase duas horas de concerto, os vários instrumentistas que a ele se juntam têm uma importância crescente, nomeadamente nos temas do novo álbum, muito mais susceptíveis da instrumentalidade e das guitarras que, em outros momentos passados da carreira do natural de Sheffield.
Contudo, com ou sem banda, aquilo que se queria testemunhar era a voz de Richard Hawley. Aquele timbre que ao cargo de mais de dez anos continua a soar apaixonado e terno apesar das características graves que apresenta.
Pouco expressivo durante a execução dos temas, mas bastante comunicativo no intervalo dos mesmos, apostou num alinhamento equilibrado. No fundo, apesar de ter um novo disco para apresentar, Standing at the Sky’s Edge, o público estava maioritariamente a aguardar a audição dos clássicos. Tendo consciência desse factor não se coibiu de ir ao encontro das expectativas e ‘Soldier On’, ‘Hotel Room’ e ‘Tonight the Streets Are Ours’, são servidos de bandeja e encantam os presentes.
É indesmentível que ao longo da sua carreira discográfica, que já conta com sete álbuns de estúdio, a aposta em temas orelhudos e com uma componente centrada no refrão, tem sido uma constante. No entanto, sabe bem sentir o romantismo e a paixão que a sua voz transmitiu. Grossa, mas também comovente. Afirmando que não consegue falar português, mas que na verdade mal sabe falar inglês, nota-se que não poderia estar mais equivocado. A forma como pronunciou as palavras de forma harmoniosa, perceptível e ritmada são um dos seus grandes trunfos.
Jogando entre as músicas mais fortes do novo registo, com maior recurso às cordas e à força instrumental, ‘Leave Your Body Behind You’ e ‘Down In the Woods’ servem para marcar o contratempo sonoro com temas mais melosos como ‘Open Up Your Door’ e ‘Remorse Code’ do mais longínquo Truelove’s Gutter.
Aparentando ser um homem de longas batalhas, Richard Hawley poderia surgir como aquele artista ideal para um qualquer sucesso amoroso. Com as emoções que passa na forma de empreender a sua voz, seria capaz de enternecer qualquer pessoa e tornar mais notável a conquista.
Com as frequentes referências temáticas à sua cidade natal, não se notou na sua performance a frieza desse local e do seu país. A sua forma cantada é quente e apaziguadora e, será melhor entendida num momento de isolamento. Quem sabe no aconchego do lar enquanto se observam os momentos cinzentos do exterior.
No final, ao avaliar se terá sido uma noite esplendorosa e notável, a resposta poderia não ser totalmente positiva. Contudo, não seria expectável que assim fosse e no geral, Richard Hawley cumpriu com tudo o que se lhe pedia.
Na primeira parte, as Smoke Fairies com uma postura demasiado doce e com um jogo recorrente entre as duas vozes femininas, fizeram sentir a falta da presença de algo mais que o simples acompanhamento das guitarras.
Sem algo muito sofisticado, apresentaram algo com algumas tendências country mas refinado para integrar sons mais passíveis de serem tocados num pub. É conhecida a admiração de Richard Hawley por este duo mas, com a sala ainda bastante vazia para as receber, pouco mais conseguiram que ser um entretenimento para o que se seguiria.