Muita coisa mudou nos Red Sparowes desde o primeiro álbum, já de há seis anos atrás, não só no alinhamento, com a saída de Jeff Caxide (ISIS) e de Josh Graham (A Storm of Light), entre outros, e com a entrada mais recente de Emma Ruth Rundle para a guitarra, mas também no conceito e na abordagem musical.
Felizmente, toda esta movimentação levou a que, enquanto compositores, Bryant Clifford Meyer (dos ISIS) e o restante colectivo se distanciassem não só do seu passado, como de todo o post-rock, conseguindo uma abordagem realmente diferente do que se tem visto no género. Em The Fear Is Excruciating, But Therein Lies the Answer, os norte-americanos conseguem evitar da melhor forma os clichés do rock instrumental, vestindo as suas texturas com uma roupagem estruturalmente nova e inteligente.
Enquanto em At the Soundless Dawn, o álbum de estreia, cada música compunha uma frase de um texto descritivo de uma paisagem, dando uma ideia concreta do todo que se pretendia atingir conceptualmente, algo que os tornava distintos, os Red Sparowes perdiam-se seguidamente na abordagem ao seu post-rock, dotado de um som mais agressivo e negro do que era habitual no género, mas nem por isso verdadeiramente diferente do que se fazia.
Provavelmente desde a imposição dos Mogwai e do seu Young Team, o post-rock, salvo raras e brilhantes excepções, como são as bandas da editora canadiana Constellation que se movem nas mesmas ondas, socorre–se regularmente da mesma fórmula, no que à narrativa das músicas concerne: leva-se uma melodia à explosão, num longo crescendo, com uma ou outra variação, e tenta-se isto até não dar mais; depois muda-se de música e repete-se o processo. Claro que esta generalização padece do mesmo mal que todas as outras, que é o facto de não reflectir inteiramente uma realidade. Mas não será menos real o facto de o género estar esgotado desta solução, ou precisado de uma abordagem sonora diferente.
Os Red Sparowes, apesar do bagagem de pós-doom que carregavam, acabavam por não evitar completamente a fórmula do pós-rock, e os conceitos com que se adornavam, à vista deste novo álbum, quase que parecem desculpas, factores que serviam para nos abstrair dessa falha que tem perturbado esta parte da carreira de músicos consagrados na música alternativa.
Finalmente, em The Fear Is Excruciating, But Therein Lies the Answer, os norte-americanos mostram as suas capacidades de composição e apresentam uma alternativa, criando um álbum eficaz, sentido e intenso, sem o típico crescendo. As músicas deste novo registo estão estruturadas de uma forma mais complexa e repleta de pequenos pormenores e sons deveras inspirados, dando um novo fôlego à banda e, quem sabe, até ao post-rock.
A começar no som das guitarras, e na forma como estas constroem as melodias, que, como se nota imediatamente no início de A Hail of Bombs, de uma forma pouco ortodoxa, constroem-se muito através de acordes e de modulações quase medonhas, muito óbvias em A Mutiny, que resultam numa música menos contemplativa, mas nem por isso menos bela.
O culminar, não só derivado na nova abordagem às guitarras – elemento essencial e guia dos géneros rock – acaba por ser a arquitectura mais reflectida e complexa das músicas, dotada de linhas melódicas fortes e distintas, como fica imediatamente claro em In Illusions of Order. Este, aliás, sempre foi o ponto forte dos Red Sparowes e aqui só sai mais evidenciado.
De resto, este é o aspecto em que se nota mais uma continuidade, apesar das diferentes sensações que transmitem. Do urbano-depressivo pós-apocalíptico de antigamente, para o solitário esperançoso de The Fear Is Excruciating, But Therein Lies the Answer, nota-se um traço indicativo da carreira dos norte-americanos.
Este The Fear Is Excruciating, But Therein Lies the Answer é a demonstração de que os Red Sparowes sempre foram uma banda recheada de potencial (alguém teve dúvidas?), completamente incarnado nestas composições. Mesmo que o post-rock, esse sujeito mal encarado, não retire lição alguma desta verdadeira e muito aguardada obra, teremos sempre os Red Sparowes. E essa é uma lição que fica para nós.