A noção de que os Red Fang​ são os maiores porreiraços não está errada – são mesmo. Longe de esperar que “Murder The Mountains”, o seu segundo disco (editado em 2011), os arrastasse mundo fora e lhes abrisse tantas portas e rostos, o despretensioso quarteto de Portland viu-se emaranhado num jogo de expectativas que habitualmente não tem lugar no seu rock descontraído. Sobre “Whales And Leeches”, esse aguardado sucessor, e sobre outras tramas e novidades, Aaron Beam, vocalista e baixista, esteve connosco em cavaqueira, antes de, amanhã, tocar com os seus buddies no Hard Club. Sexta-feira é a vez no Musicbox.

Vocês são uma banda super descontraída, portanto quão estranho foi comporem o “Whales And Leeches” sabendo que, agora, um grande número de pessoas espera dos Red Fang coisas boas? O sucesso do “Murder The Mountains” pressionou-vos?

Foi muito estranho! Pessoalmente, não esperava tanta pressão, mas ela existiu. Não sei exactamente o que se sucedeu, já que não tivemos propriamente fãs a escreverem-nos “Ei, pá, é melhor fazerem um disco de jeito!”. Creio que, por termos noção de quantos discos vendemos, sentimos que esse mesmo número de pessoas ansiariam pelo novo trabalho. A situação ainda ficou mais densa pela atenção que o nosso manager, a nossa editora, etc. nos deram – já que foram eles a investir dinheiro e tempo em nós. Mas, no final, acabas naturalmente por escrever o álbum que te surge no momento e não te preocupas com as expectativas. Concentras-te na composição e no lado divertido de tocar com os teus amigos.

Li que vocês atrasaram a composição até ao último minuto. É difícil lidar com prazos?

Para nós, sim! Bem difícil! Nunca compusemos sob pressão. É algo bem mais árduo do que deixar o processo fluir. O problema é que começámos a viajar bastante, tanto que, sem deadline, não escrevemos qualquer tema durante dois anos e meio. A demora teve muito que ver com o estarmos enferrujados no que à escrita diz respeito.

Com os Red Fang a abrangerem uma maior audiência, aumentando a sua dimensão, não têm medo de perder o gosto por tocar? Não são raras as histórias de bandas que stressam com a “profissionalização” e com o facto de tudo se tornar um trabalho full-time.

Obrigado por fazeres esta pergunta! Nunca imaginaria que pudéssemos sentir isso, e fiquei bem surpreendido quando reparei nos primeiros sinais. Tenho feito tudo em meu poder para contrariar esse sentimento. Há duas coisas que tento pôr em prática: primeiro, quero apenas convidar bandas de que realmente gosto para nos acompanharem em tour, para que possa ver a situação através dos seus olhos, e para não ficar preso no jogo de “eu sei que não gostas muito desta banda, mas eles têm público e farão um cartaz mais forte.” Para mim, isso são tretas. A segunda coisa é tocar com o máximo de gente possível, criando assim desafios musicais e levando coisas novas para Red Fang. Neste álbum, tivemos o Paul Jenkins [The Black Heart Procession] e o Mike Scheidt [YOB] a trabalhar connosco em estúdio. Além disso, no ano passado, tive a sorte de passar tempo com algumas das minhas bandas favoritas – Federation XHelms Alee, e mais recentemente eu e o John [Sherman, baterista] tivemos um grande desafio numa colaboração excelente com o Luc Hess e o Louis Jucker, que costumavam tocar nos The Ocean.

Como surgiu a associação com o Mike Scheidt, no tema “Dawn Rising”? Teve que ver com o facto de ambos serem do Oregon?

Os YOB são uma das melhores bandas do mundo, e têm sido uma grande inspiração para os Red Fang desde o princípio. Assim que começámos a conhecer melhor o Mike (lá por volta de 2007), falámos em colaborar. Demorou este tempo todo a acontecer.

Qual é o conceito por detrás das letras do “Whales And Leeches” e quão importante para vós é esse capítulo?

Acaba por ser mais decisivo do que eu gostaria, pois sinto que coloco demasiada pressão em mim para escrever algo óptimo. Normalmente, acaba por sair algo muito imaturo, como se estivesse ainda no secundário, mas enfim. Não posso falar pelo Bryan [Guiles, vocalista/guitarrista], mas as minhas letras no disco relacionam-se com o apocalipse. Creio que reflecte a pressão que senti para escrever um bom álbum.

artwork também não é propriamente para uma banda de stoer, digamos. Tem um feeling psicadélico, é certo, mas mais naquela onda dos Voïvod. Como é que surgiu?

Orion Landau, o responsável gráfico da Relapse foi o responsável! Adoro o resultado! Não estou certo sobre qual a inspiração. Acho que tem que ver com o facto de termos esse lado psicadélico. E ele também quis “gozar” um pouco com as bandas que usam iconografia animal. Portanto, em vez de usarmos só um animal, ele usou todos.

Trabalharam novamente com o Chris Funk na produção. Equipa que ganha não se mexe, certo? Consideras o Funk uma espécie de membro não oficial, dada a sua importância?

Na minha opinião, qualquer produtor com valor deve ser considerado parte da banda. Não sei se te posso garantir que ele seja o nosso quinto membro, todavia. Diria antes que ele é “meio membro”…?

Estão prestes a começar uma tour europeia gigante, que apenas irá terminar no meio de Abril. Porquê uma digressão tão grande?

Ah! Quando olhas para o nosso calendário, ele acaba por ser enganador. O total da nossa tour anda à volta de sete semanas, mas vamos tirar três de folga, para voltar a Portland e relaxar. Mas a razão pela qual fazemos tantos concertos é porque a Europa tem sido muito, muito boa para nós e somos extremamente sortudos por termos fãs por todo o continente. De Portugal a Londres, de Helsínquia a Istambul.

Os The Shrine e os Lord Dying vão ser o vosso suporte na digressão. Qual a relação dos Red Fang com ambas as bandas? Vão tentar ser para eles o que os Mastodon foram para vós?

Bem, não há maneira de sermos o que os Mastodon foram para nós, já que não temos, nem de perto nem de longe, a sua dimensão. Há vontade, sempre, de ajudar os nossos amigos, o máximo possível. Não somos propriamente ambiciosos, com objectivos definidos, portanto temos vindo a depender bastante da ajuda de outros para chegarmos ao ponto em que nos encontramos. Queremos passar isso para os nossos irmãos. Não necessariamente a abordagem musical, mas a atitude em relação ao que fazem.

Além dos The Shrine e dos Lord Dying , que outras bandas americanas, pouco conhecidas, merecem a nossa atenção?

Esta é sempre uma das minhas questões favoritas, portanto obrigado por a teres colocado. Ora bem: Helms AleeBig BusinessFederation XIndican HandcraftsSandriderWhores.Hungry GhostGaytheistWild ThroneYOBSurvival Knife.

Ao viajar tanto pela Europa, talvez venham a sentir falta da vossa cerveja. Ou preferem beber aqui? Algum sítio especial em que gostem de ir para os copos?

Sou a pior pessoa para responder a isto, pois eu já não bebo! Tive de parar. Estava a desenvolver problemas nos meus intestinos relacionados com a levedura. De vez em quando ainda bebo licor. Não tenho propriamente um sítio favorito: tem de ser uma ocasião especial, com pessoas de quem gosto mesmo. A última vez que bebifoi com o Luc e o Louis, quando acabámos o projecto Red Kunz. Provavelmente, não vou beber durante os próximos meses.