A sala 1 do Hard Club do Porto encontrava-se (surpreendentemente) cheia para receber os Radio Moscow, o que revelava um sintoma de crescimento espontâneo ou uma passagem pelo Milhões de Festa a deixar saudades. De uma forma ou de outra, foi para saciar a vontade de riffs e de viagens intermináveis pela psicadélia dos solos de rock que uma pequena multidão se juntou no Mercado Ferreira Borges e não se pode dizer que tenham saído logrados. Mas uma coisa de cada vez.

Há que falar, em primeiro lugar, dos ALTO!, a quem coube a abertura das festividades. Cientes do desafio de fazer o seu rock desenrolar-se perante um público sedento de jams, preteriram o formato canção em prol de soluções mais ébrias, com os teclados a servirem de mote para desenvolvimentos da música que não eram, de todo, esperados. E com o efeito surpresa a jogar do lado deles, os barcelenses tiveram a tarefa de ganhar a atenção da audiência facilitada.

Vieram, depois, os tão aguardados Radio Moscow. As cartas estavam na mesa desde a surpresa no nosso festival de verão preferido e já se sabia com o que contar. Riffs a tresandar a mofo dos anos 70 e consequentes solos de guitarra até ao espaço sideral. Foi, de resto, a fórmula repetida até a exaustão, num pára arranca de twists nas composições que acabariam por se tornar previsíveis.

Se, aquando da sua passagem pelo Milhões de Festa, a banda de Parker Griggs (que entretanto renovou a sua formação depois de alguns desentendimentos e arremessos de instrumentos) mostrou ser aquilo que era preciso para encerrar, de vez e para a edição, o palco principal e, mais importante ainda, para funcionar como a última injecção de adrenalina, indispensável para aguentar o festival até ao fim no derradeiro dia, no Porto isso ficou-se pela promessa. A explicação disto talvez seja “less is more”.

Com a noite apenas por sua conta, foi difícil segurar Griggs e companhia na cerca de uma hora com que tinham brindado quem os viu na sua última passagem por Portugal, e a sua actuação prolongou-se pela hora e meia, à qual acresceu ainda um encore. A repetição da fórmula serviu para aguentar os que justificaram o regresso ao palco, mas não foram poucos os que vergaram perante o cansaço – e este é um verdadeiro crítico de concertos, mais objectivo do que o que é possível imaginar.

Mas, que sei eu? Tecnicamente, o concerto foi irrepreensível e tanto Griggs como os companheiros de palco manusearam os seus instrumentos sem mácula e com dedicação invejável. Infelizmente, nem tudo se resume a isto.