A noite de 9 de Março, em Lisboa, foi talvez a primeira noite de Verão do ano, mesmo que em verdade não tenhamos chegado sequer ainda à Primavera. A temperatura sugeria o adeus aos casacos e no Lounge, onde se estreou ao vivo RA, a noite aqueceu ainda mais, muito graças à energia dos músicos — da sonoridade deste projecto pode dizer-se muita coisa, mas certamente não se dirá que é música de Verão.

E não só a noite estava convidativa como ainda outros factores se pareciam alinhar: o Sporting jogou cedo, para que os adeptos tivessem tempo de digerir a derrota antes do concerto, e afinal ganhou. Tudo para deixar as gentes de espírito livre. Só quem não colaborou foi o austríaco Christian Fennesz que tocou à mesma hora, no teatro Maria Matos, e, sabemo-lo de fonte segura, roubou algum público a RA.

Apesar de ser um projecto pessoal e individual de Ricardo Remédio, teclista dos Löbo, será apresentado ao vivo com colaborações. Para a estreia, Ricardo fez-se acompanhar de um homónimo: Ricardo Salvador, guitarrista dos Moe’s Implosion. Este último acrescentou a guitarra, que não está presente nas gravações, às músicas de RA e deu ainda uma ajuda no teclado. Se na primeira música tocada a guitarra se harmonizou com as ambiências criadas por RA, à medida que o concerto se aproximava do fim essa harmonia foi-se deteriorando em distorção e efeitos do guitarrista de Moe’s Implosion. O talento de Ricardo Salvador é inegável, basta vê-lo tocar com a sua banda para disso nos apercebermos, mas para enriquecer as paisagens sonoras de RA talvez seja necessária uma outra abordagem.

O que parece ponto seguro é que a apresentação ao vivo de RA pede companhia. De qualquer forma, para primeiro concerto não se pode pedir muito melhor. É mais fácil falar de Ricardo Salvador porque a prestação ao vivo de Ricardo Remédio é menos visível. Ainda assim, do homem por detrás de RA pode dizer-se que transmite na perfeição a força, a energia e a carga dramática presentes na sua música.

É uma estreia auspiciosa. A relação da guitarra com o que foi gravado em estúdio será, certamente, melhorada e as projecções de vídeo, quando forem apresentadas, materializarão as paisagens que, sem essas projecções, temos de imaginar a partir do som (o que não é, de todo, difícil — e talvez este seja um dos maiores elogios que se pode fazer a RA). Fica-nos só a espera. Esperamos pelo lançamento do EP, esperamos pelo enriquecimento das apresentações ao vivo e esperamos mais músicas, para que os concertos se prolonguem noite fora.