Ainda acreditas quanto te dizem que nunca é tarde demais?

“The Agent Intellect” é como um nó de escota no meu estômago, apertado, afogado, tricotado entre o esmalte da desistência e o tesão da revolta porque os Protomartyr vêm de um sítio onde o adormecer ao longe se confunde com a morte. O Joe Casey, enrugado pelos trinta e tal anos de vida, chamou uns putos porque tinha uns poemas | escritos no verso de umas contas de luz por pagar | sobre morte, a morte do pai, sobre a solidão, sobre as próprias rugas em si, sobre a fatalidade, a mortalidade, o existencialismo que todos temos guardados num porco-mealheiro de memórias. Queria dizer os versos, queria cantá-los, ou pelo menos dizê-los como faziam os Pere Ubu, um barítono de Detroit entalado numa casa com infiltrações, sublimações e ensejos.

Arranjaram-se os Protomartyr, bons, miúditos atrás dum homem que se acha velho, que se acha barrigudo, que se deprime por todos os negócios que fecham numa Detroit em estéril bancarrota, Estado que se fosse um país se calhar também tinha a pila do Schauble entalada no cu, economias que nos dão a provar a depressão numa colher cheia de bolor. Não havia o Joe Casey de ser um gajo triste, ainda que agora lhe e nos queiram convencer que ter dadbod é atraente, mas de que é que isso interessa num mundo horrivelmente real, onde por muitas cambalhotas que demos lá fica este vazio… As reticências indicam aqui uma espécie de eco.

Arranjaram-se os Protomartyr, post-punk escolástico, que parece tenrinho quando lhe metemos o dente à primeira, mas depois os caninos e molhares atrapalham-se para engoli-lo porque não é simples, é auto-depreciativo mas esconde grandeza, é humilde mas tem a soberba dos bons discos.