No decorrer dos últimos anos, sempre que é editado um novo álbum de PJ Harvey, surge a expectativa de como seria divinal ouvir de novo a voz e o som raivoso que caracterizaram os primeiros álbuns. Curiosamente, sempre que posteriormente se ouve uma nova edição, esse sentimento rapidamente se desvanece e compreende-se que, mais uma vez, a donzela de Dorset criou um disco representativo da sua actualidade musical.

Assim se sucedeu, por exemplo, com White Chalk ou com Uh Huh Her. Acontece que, com Let England Shake, essa sensação de completa realização ao ouvir Polly Jean aumentou exponencialmente. Digo mais, Let England Shake é o melhor álbum da inglesa na última década e capaz de ombrear com qualquer um editado nos anos 90. Nunca um registo com tão pouca influência de guitarra soou tão interventivo, surgindo a voz de PJ, em todo o disco, como uma espécie de voz amiga e conselheira.

No fundo, uma sensação de ralhete, mas com um timbre tão angelical e elegante, que se torna saboroso ser objecto de tal reprimenda. PJ Harvey mostra com este disco que continua provocativa, utiliza é armas diferentes e novas formas de expressar os seus sentimentos. A mudança sonora é, consequentemente, muito sentida na parte instrumental, sendo a guitarra trocada pela harpa, o que mais uma vez denota que, a cada novo passo na história da britânica, existe uma sabedoria de novos contextos e formas de se reinventar.

Let England Shake é, então, a prova de que PJ Harvey trata-se de uma das grandes artistas que o mundo viu nascer. Depois de atingir novamente um patamar superior, a grande questão que se coloca é como irá ser possível surpreender num futuro trabalho. A avaliar pelos quase 20 anos de gravações, ela saberá, certamente, muito bem como o conseguir.