A iconografia dos autores de Bestiário, negra e mórbida, faz com que uma noite de Halloween seja o ideal cenário para uma actuação dos portugueses. Numa noite prometida como especial, os Bizarra Locomotiva fizeram jus ao epíteto com uma surpresa na sua formação.

Marco Franco, ex-baterista do grupo, reuniu-se com o quarteto, naquela que foi uma invocação ao melhor estilo dos Melvins. O duo de bateria revelou-se visivelmente eficaz – é sempre curioso assistir à coordenação de dois drummers – mas a nível de impacto sonoro nem por isso. Até porque, ateste-se, a acústica da Cine-Incrível está longe de ser o local perfeito para um act como os Bizarra, grave e pesado.

Alheios a isso, o por uma noite quinteto aplicou as suas principais valências em Almada: energia a rodos, destreza instrumental e um Rui Sidónio que nem por um momento se entrega à letargia. Sobe e desce do palco, salta, invade a plateia, passeia nos ombros de um fã, enquanto vai berrando alguns dos temas-símbolo: ApêndicesO Cavalo AladoCâmara ArdenteDruídasou Cada Homem foram preenchendo um alinhamento claramente focado nos clássicos que construíram os Bizarra Locomotiva como um dos nomes de culto do underground nacional.

Com uma plateia menos demencial do que outras que pairam na memória em concertos dos portugueses – algumas até de anteriores concertos em Almada -, os Bizarra Locomotiva deixaram ainda assim toda a ferocidade no palco da segunda edição do Phantasticus II, algo mais do que comprovado com a retumbante despedida ao som de O Escaravelho. Os anos, esses passam, mas o motor da banda parece disposto a percorrer ainda muitas, muitas estações. O fim da linha não se vislumbra.