Uma das coisas belas de criar, em qualquer arte, é a desconstrução. Quebrar linhas, pisar fronteiras, tocar o céu, num limite completamente ilimitado. O ousar ir mais além, sem regras, é o mote que lança o primeiro longa-duração dos PAUS, ainda que isso custe a entranhar à primeira.

A diferença fulcral entre o EP É Uma Água e este trabalho homónimo começa na maior inclusão dos teclados de João “Shela”, um destaque que só traz benefícios na parte melódica, enriquecendo e mutando esta evolução do grupo. Aliás, é mesmo no single de avanço, Deixa-Me Ser, que essa alteração ganha maior forma, só que a exploração vai mais longe e chega aos terrenos do kraut, com influências consolidadas a nível rítmico, e com um avanço próximo do prog-rock de uns Tool, mais gritante no baixo, sob a responsabilidade de Makoto Yagyu, em Língua Franca.

Mas, a língua dos PAUS é, igualmente, seminal e, por vezes, tribal. Graças ao idioma próprio deste colectivo que não tem medo de se afirmar como livre e de lançar-se ao vento, todas as canções falam por si, como são exemplos a parafernália à la post-rock deDescruzada ou a jam inicial (e libertária) de Ocre.

Apesar dessa liberdade, que pode parecer despreocupada, PAUS, o disco, é um registo de reflexão. A força e imaginação não parecem aqui ter quantidades mensuradas, nem fim, que, segundo a letra de Muito Mais Gente, é “um princípio básico”.