Com o Convento esgotado de almas repletas a receber o noise de Helm, o mesmo surgiu pronto a espicaçar todos aqueles que estivessem dispostos a isso.

Sentado à frente da maquinaria, repleto de cabos, qual maquinista perante os seus instrumentos de trabalho, a actuação de Luke Younger começou com a exploração de uma imensa linha de feedback que acompanhou toda a actuação através de um constante trabalho e agregação de incremento de outros sons.

Há que ser sincero, a música que se construía é tudo menos de assimilação fácil. A apresentação de momentos noise é dupla. Por um lado, mantendo a possível sonoridade e musicalidade do mesmo e, por outro, apresentando uma interpretação pura e dura, sendo neste último panorama que essencialmente se centra. Assim, a entrada no mundo do músico sediado em Londres, é claramente complicada.

Assente na repetição e na exploração de cada tempo sonoro até à exaustão e ao máximo da sua existência, acaba por ser um som de aquisição. Uma relação conflituosa, mas que no momento de interiorização consegue transmitir uma sensação de agradável assimilação.

Se muitas vezes se refere o drone e mesmo o noise como música assente em camadas ou as ditas paredes de som, Helm parecia levar a definição para momentos ainda mais extremos, tal era a agressividade das suas composições. Ao contrário de muitos artistas desta vaga, em que a introspecção é uma constante, aqui não se pode esperar esse factor. Bruto e forçoso, o seu som faz com esses possíveis momentos pessoais não sejam possíveis, constituindo uma diferença e interesse salutar.

KEVIN DRUMM

Depois de largos anos de espera, o OUT.FEST garantiu aquilo que há muito tempo vinha sendo solicitado. A presença em estreia do americano no nosso país. Depois da performance anterior, Kevin Drumm apresentou algo mais dramático, porventura menos pesado, e este sim, a apelar mais aos sentidos e às viagens individuais.

O músico natural de Chicago recorre também ele a mecânicas de repetição, no entanto, com uma introdução de compactos ambientes, claramente demarcados das estruturas mais pausadas que outrora delineou no seu largo percurso discográfico. Com pequenas adições de sons e toques ia construindo componentes ruidosas.

Ao longo de cerca de 30 minutos assistiu-se a uma constante progressão sonora, toda ela lógica em que o som se ia adensando e tornando mais robusto ao longo da actuação. Uma estranha sensação em que se caminhava com urgência para um qualquer local, tal era a força da sua música. Um caminho para um local enigmático e de muito complicada chegada.

Kevin Drumm permaneceu durante todos os segundos, impávido a olhar para o seu laptop, parecendo pouco consciente das ondas de som e do incrível vento sonoro que criava.

YONG YONG

Depois das duas tareias anteriores, os Yong Yong no espaço ao ar livre do Convento, serviram como um pacificador para um regresso em paz e sossego ao destino. Com uma abordagem completamente diferente, o duo que se encontrava dentro de uma espécie de tenda, apresentou uma sonoridade essencialmente mais calma, menos densa e, porque não, mais tribal.

De facto, acabou por ser uma surpresa indo ao encontro daquilo que se anunciava. “Não se surpreendam se se surpreenderem” era afirmado no folheto no OUT.FEST e, assim foi. Muito centrados na importância das batidas e no seu desenvolvimento, este projecto tem margem de progressão e espaço para crescer se houver a capacidade para acrescentar ainda mais elementos ao seu som.