«Vamos tocar um monte de canções pra’ vocês», disse Sérgio Dias, vocalista e guitarrita de Os Mutantes. O único remanescente da vaga psicadélica que varreu a banda nos setentas, levando uns à loucura e outros a outras actividades, sem contar com Rita Lee, que ainda está para as curvas, mas não ali, infelizmente.

Os preparos da festa deram trabalho aos arrumadores de carros, no seu tetris para os encaixar simetricamente pela borda que recorta o Tejo. Fila para entrar. Anúncio de casa cheia, tocavam os Ganso, sorteados para fazer a primeira parte da banda brasileira numa iniciativa da Tradiio. Bigodes e camisas coloridas, peitaça destapada, cabeleiras bem cuidadas e cigarro nas beiças vaidosas, tropicalismo de bolso. Alguém que fume um charro? O ar no Armazém F cheira a muita gente, e só.

Aqueles que vimos em palco não eram Os Mutantes. Nem por sombras. Não pela óbvia presença de apenas um dos membros originais, mas sim por aqueles em palco não transmitirem um leve dejá vù daquilo que esperaríamos da banda ao vivo. E não esperávamos certamente ouvir “O A e o Z” na íntegra, mas uma réstia de soul, de groove, de blues litúrgicos. Mas os músicos estavam para o tropicalismo como poderiam estar os Xutos & Pontapés, batiam muito e demasiado, música-chave como “Top Top” ou “Ando Meio Desligado” foram tão esticadas com bateria que, em vez de um mergulho no oceano morno, levámos com as enguias do Tamisa.

Não obstante, a festa foi animada. O setlist a apostar na fase menos progressiva da banda, com as músicas curtas e animadas provenientes de “Jardim Electro” e “Technicolor”. De assinalar: as péssimas versões já referidas – novamente, e não deixar esquecer o imprestável chá-chá-chá dado a “El Justiciero”. Mas penoso a valer são as novas cantigas que a nova e mal-enjorcada banda deu à luz – «Abaixo de zero», lembrando Almada Negreiros – nos discos “Haith Or Amortecedor” de 2009 e “Fool Metal Jack” editado em 2013. A função pode ser penosa, amigos. Depois de uma saída de palco, com tanta magia como tudo o resto, mais uma versão decadente – no mau sentido  – para “Panis Et Circenses” do disco de estreia da banda, que encerrou com os músicos num cordão largamente ovacionado.