“O amor é uma doença quando nele julgamos ver a nossa cura.” foi a primeira coisa que se ouviu do palco. Quando as primeiras palavras deste sábio verso – originalmente declamada por Vitor Espadinha n’O Monstro Precisa de Amigos – já todo o Coliseu vibrava de uma forma que, na sua longa história, não se deve ter repetido muitas vezes. O arranque não podia ser mais adequado sendo essa talvez a única explicação possível para os facto de os Ornatos Violeta, com dois discos editados e 10 anos de hiato, esgotarem 7 coliseus e causarem a maior enchente de que há memória em Paredes de Coura – isto não é amor, é doença.
Apesar de tudo o que disse no parágrafo acima, o regresso a casa do quinteto portuense foi no mínimo triunfante – só lhe faltou aCavalgada das Valquírias, mesmo que esta corresse o risco de ser completamente abafada pelos ensurdecedores aplausos de um Coliseu esgotadíssimo. O que se seguiu foi uma verdadeira celebração simbiótica entre a banda e o público que, durante 2h30 esteve em perfeita sintonia com Manel Cruz, Kinörm, Nuno Prata, Peixe e Elísio Donas. Praticamente todas as músicas foram entoadas em uníssono por um público que juntava debaixo do mesmo estandarte duas gerações de fãs: os que viram as suas vidas marcadas pela música dos Ornatos e que há 10 anos aguardam o seu regresso e os que já os conheceram “post-mortem” pelas mais diversas vias (que podem ou não incluir concursos de talento na TV).
Da rebeldia adolescente a transpirar sexualidade (mais patente noCão!) até à angústia melancólica d‘O Monstro e com muita nostalgia à mistura, o espectro de emoções foi amplo e intenso (uma vez mais tanto para o público como para a banda). Assistiu-se, no Coliseu, a um desfilar de todos sucessos e percorreu-se de ponta a ponta a carreira dos Ornatos incluindo, como não podia deixar de ser, uma dose generosa de temas inéditos (a banda chegou mesmo a lançar um agradecimento a Ricardo Almeida – o seu primeiro vocalista – antes de interpretar Sacrificar, um tema da sua autoria). Foi um alinhamento (desta vez sim) equilibrado, com o momento de maior rebuliço a recair em Dia Mau (não o foi de todo) e o mais aguardado ficando para o final do corpo principal do concerto (Ouvi Dizer e Capitão Romance foram arrepiantes). No fundo só não se pode dizer que o concerto foi num registo de greatest hits porque, na verdade, não houve uma selecção criteriosa dos temas e quase toda a discografia da banda passou pelo palco (não que isto seja um ponto negativo, atenção).
O público clamava por mais e os Ornatos não se fizeram de rogados. Ao todo foram quatro (4!!!) encores de onde se destacou o groove de Punk Moda Funk, a simplicidade desarmante das canções dedicadas às meninas (Raquel e Marta) e, claro, a Fim da Canção que encerrou em nota alta uma noite que ficará certamente na memória de quase todos os presentes – à saída, os sorrisos extasiados eram prova disso.