B Fachada

O primeiro nome a actuar no dia 2 de festival foi o bem/mal (riscar o que não interessa) amado B Fachada. A lotação super limitada do pequeno auditório do CCVF fez com que, do lado de fora, ficassem mais pessoas do que do lado de dentro, prova da popularidade de músico lisboeta. O músico começou por dizer que não pratica habilidades (tema retirado do seu segundo disco homónimo) mas logo se virou para os ritmos quentes de Criôlo. De Sérgio Godinho não se ouviu sequer um acorde, nem podia visto que, em palco não se vislumbrava qualquer instrumento de cordas – o concerto, foi todo à base de sintetizadores e caixas de ritmos, um formato que parece confundir o tio B. que, mais uma vez (remember Paredes de Coura?), parecia não atinar com a aparelhagem que tinha à frente.

“Ainda é cedo.” desculpava-se simpaticamente o artista a cada argolada que enfiava, mas com tanta reincidência nos enganos é difícil não passar B Fachada do separador de “descontraído” para o de “desleixo”. A certa altura ouve-se da sua voz que em terra de amadores basta ter o pau a meio (apesar de tudo, é sempre um prazer ouvir Deus, Pátria e Família ao vivo). Tendo em conta a falta de preparação que o músico demonstrou, não há como não concordar com a afirmação. Como diria James Murphy: B Fachada, I love you but you’re bringing me down.

Little Wings

Depois dos ritmos dançáveis de B Fachada era momento de arranjar uma posição confortável nas cadeiras para a descontracção quase tropical dos Little Wings. Excêntrico e comunicativo, Kyle Field  é um personagem que, por si, já é um espectáculo. O baixista e baterista que o acompanharam em palco extremamente discretos e deram ao protagonista todo o espaço para brilhar. Kyle, esse saltou, dançou, atirou-se para o chão e fez uma série de macacadas sem que o concerto decaísse para uma espécie de número circense – foi tudo na onda relaxada das suas canções. As histórias de Halloween fora de época ou de pessoas que batem nas portas erradas, conjugadas com melodias meigas para os ouvidos, derreteram os presentes que saíram do pequeno auditório mais bem dispostos e certos de que acabaram de assistir a uma das mais agradáves surpresas do festival.

Tropa Macaca

Tempo então de nos virarmos novamente para os projectos lusitanos. No caso, uma banda de perto de Santo Tirso que tem tido um agradável trajecto. Editados recentemente pela Software Records de Daniel Lopatin (Oneohtrix Point Never), os Tropa Macaca – banda de André Abel e Joana da Conceição – apresentam o bem referenciado Ectoplasma. No café-concerto, fazem-nos viajar por longos e sinuosos caminhos labirintos, característicos do Noise Ambient que criam. Demora tempo até entrar no seu complexo universo, mas as canções sucedem-se e sentimo-nos mais confortáveis com as inúmeras espirais sonoras pintadas pelos seus sintetizadores. Em concerto, as suas melodias exigem a mesma persistência necessárias para o álbum. O esforço, no entanto, parece compensar e percebemos estar perante algo interessante e profundamente original.

Sir Richard Bishop

Num dos golpes mais irónicos deste festival, o músico que antecedeu os Swans foi um ‘simples’ guitarrista, munido apenas do seu instrumento acústico e algumas pedaleiras. O norte-americanoSir Richard Bishop teve então o privilégio de tocar com todo o aparato da esmagadora banda de Michael Gira como pano de fundo, mas não se deixou intimidar de maneira alguma.

Com os seus arabescos meticulosos, Sir Richard Bishop transportou o público do Primavera para o cenário das 1001 noites naquela que foi a primeira viagem da noite aos territórios do Magreb. Mais tarde, os Tinariwen viriam a revisitar esse espaço geográfico que é, afinal de contas, onde estes se sentem em casa. Mas de volta ao guitarrista que, era também membro dos extintos Sun City Girls. Ora abraçando o oriente com dedilhados cíclicos a lembrar um mantra hindu ora mais virado para um duelo ao por-do-sol trazendo à memória os westerns de Sergio Leone, Richard Bishop tem, literalmente, o mundo nas pontas dos dedos e, em palco, provou isso mesmo.

Swans

Voltamos então a dar atenção ao imponente aparato que estava em palco, depois de Sir Richard Bishop se despedir. Os muitos amplificadores anunciavam a força da música dos Swans que iria inevitavelmente colapsar nos ouvidos de todos os fãs e dos muitos curiosos. The Seer, o mais recente álbum desta veterana banda, é candidato também a um dos melhores discos do ano que agora finda. É uma incrível celebração de post-punk, cruel e visceral.

 Em concerto não foi diferente e desde o primeiro momento, a inédita To Be Kind deu mostras da sua hipnotizante melodia, tão sagrada como profana, tão angelical como demoníaca. Houve tempo para um clássico como Coward, hino maior da ruidosa catarse que a banda criou. Nas primeiras filas, muitos jovens abanavam furiosamente a cabeça enquanto a poderosa maquinaria galgava melodias. A genial orquestra liderada pelo imponente e assustador maestro Michael Gira brindou ainda todos os presentes com uma extraordinária versão de 35 minutos do tema The Seer, num brutal e estonteante momento. Ao fim de duas horas, estávamos desgastados com a inebriante e energética experiência, mas profundamente cativados pelos momentos que tínhamos vivido.

Tinariwen

Quando chegamos ao CAE S. Mamede, a espera foi curta até subirem ao palco os Tinariwen. Este grupo de tuaregs do Mali cria uma música que agrega influências do rock mais clássico vindo da America e as juntas com música tradicional da África Subsariana. Esta encantadora mistura aqueceu a fria noite de Guimarães. A melodia cálida do deserto fazia a plateia balançar, entre o ritmo das suas guitarras e a cadência do batuque. Canções como Aden Osamna enterneciam e mostravam como são uma banda especial. Independentemente da instabilidade política existente na zona de onde são naturais, a luta pela arte que amam supera todos os problemas que vivem. E não há melhor mensagem para um festival onde a música é a principal protagonista.

Taragana Pyjarama / Robag Wruhme

A noite terminou com os dinamarqueses Taragana Pyjarama a mostrarem os ritmos electrónicos do seu chillwave que agitou o ambiente e lançou a folia, convidando todos para um pezinho de dança. Mais tarde, Robag Wruhme mostrou as qualidades do techno alemão até a festa terminar.