Na noite do passado dia 25,toda a Lisboa cobriu-se de chuva para receber Daniel Lopatin AKA Oneohtrix Point Never e o vídeo-artista Nate Boyce. Uma crítica não deve ser vista como um conto metafórico ou simbólico, mas neste caso a chuva não estava errada : houve banhada no Maria Matos.
Oneohtrix Point Never, que teve em Replica um dos grandes discos do no passado, voltou a Lisboa, desta vez acompanhado por Nate Boyce, para apresentar o projecto Reliquary House. Este projecto, que se estreou o ano passado no MoMa, mistura o drone/glitch de Lopatin com a vídeo-arte de Nate Boyce e tem como inspiração as esculturas de cinco artistas: Isamo Noguchi, David Smith, Jacob Epstein, Tony Smith ou Anthony Caro. Até aqui tudo bem.
O trabalho de alquimista sonoro de Lopatin, tão visível em Replica, está muito presente aqui. Afinal, o nova-iorquino usa pouco mais do que excertos de textos curatoriais, pequenos samples das biografias dos artistas e sinopses das obras, para construir as suas esculturas de som. O pior é que a coisa não combina e tudo o que foi projectado na enrugada tela do teatro foi,no máximo, desinteressante. O lado multimédia do projecto falha, ao ponto da performance parecer dois simples exercícios, um sonoro e outro vídeo, que foram agrupados com pouco critério. Não ajuda em nada o facto da suposta vídeo-arte de Nate Boyce parecer pouco mais que reles screensavers do Windows 95, com as esculturas em 3D a dançarem no espaço e se torcerem e retorcerem, em cortes rápidos de poucos segundos cada. Em alguns momentos, o vídeo era tão aleatório e a ideia de narrativa esteve tão ausente que muito boa gente se deve ter perguntado se estávamos perante uma sátira à fine-art…
Não é que a performance de OPN em si tenha sido má – a música de Lopatin,mesmo num dia mau, é mais interessante que a maioria dos artistas sonoros que se movem por aquelas paragens – mas é que, quando comparado com o concerto que o norte-americano deu em Dezembro na ZDB, é impossivel não ficar desapontado, mesmo sabendo que o contexto é totalmente diferente.
Ainda assim,é de saudar o Maria Matos (sala mui composta, como já é costume) por acolher o duo e a sua maquinaria, para uma performance que muitos defenderão que ficaria mais bem enquadrada algures num museu de arte moderna…