Foi com surpresa que nos demos conta do agendamento  do artista sírio Omar Souleyman para a moderna sala principal do Centro Cultural Vila Flor. Curiosos pelo resultado de tal espetáculo, demos um salto a Guimarães, para ver até que ponto o artista seria recebido de braços abertos no berço da nação.

Omar, que teve o prodigioso mérito de ultrapassar as barreiras a as diferenças culturais sempre causam, chegou ao Ocidente disposto a fazer furor com discos que cruzam a música tradicional síria com a síntese vibrante de sons pelo Korg do seu fiel ajudante Sa’id dando o toque electrónico ao projecto. Os dois encontraram-se recentemente com Kieran Hebdan (também conhecido por Four Tet) que se certificou que toda a energia dos dois se mantinha para a criação de Wenu Wenu, disco de Omar Souleyman lançado nas últimas semanas.

Em Guimarães, a sala com lugares sentados não parecia propor o melhor espetáculo. Um público de diferentes idades marcava presença e muitas das pessoas, normais clientes do espaço, deveriam desconhecer quão exótico seria o show  que se propunham a ver. Terá sido esse um dos principais motivos para explicar como a plateia assistiu sentada e  impávida, enquantoSa’id ousava as primeiras notas no sintetizador e subitamente aparecia em palco Omar batendo palmas enquanto ostentava a sua túnica preta, o seu Kaffiyeh vermelho e branco, óculos de aviador e bigode característico. A sonoridade dos beats que violentamente ecoavam no ouvido dos presentes não parecia ser suficiente para dispor à dançar que, em vez disso,  apenas se dispunham a tímidas palmas enquanto estavam sentados. Foi então que um corajoso grupo de jovens decidiu desafiar a vergonha e avançar até junto do palco e onde ousaram combater a inércia. A diversão ficou garantida porque contagiou grande parte do restante público e a dada muitos dançavam transformando a sala numa enorme pista da dança.

Aí, o movimento e o ritmo são os ingredientes chave para captar toda a energia hipnótica e batidas profundas e viciantes.  A fusão alegre e festiva do seu “techno sírio” – como carinhosamente o ocidente chama – enlouquece com uma tecelagem sonora e ritmos rápidos, furiosos e compulsivos. O seu dabke  é frenético e a voz de Omar gemendo e suplicando entre notas transforma o tudo num enorme momento de oração de uma tremenda inquietação. Somos levado para o meu do turbilhão. Damo-nos conta que o fenómeno em torno deste artista atingiu  um novo nível com a apresentação de Wenu Wenu, bem estilizadas e formatadas para  diretos avassaladores que fazem tudo por quebrar barreiras e dar um pouco da cultura do oriente de uma maneira exuberante. Tal como na época em que animava casamentos e vendia cassetes em feiras da Síria, Omar Souleyman procura oferecer festa e humildemente encara a luta de o mostrar a pessoas que possivelmente pensarão na música como algo estranho. E é isso que tornou este concerto e a sua música em algo tão especial.