Tem razão, tem, senhor Samuel Johnson. Ficar de enfadonha alma em Londres é assinar uma prematura certidão de óbito. Nas sorrateiras esquinas de Shoreditch, que emaranham na perpendicular e bafejam enregeladas correntezas, não faltam pubspara enganarmos o frio. Num deles, no sótão, os Oathbreakerapresentaram-se a troco de nada. Bastou deixar a molenguice de lado – ah, o conforto de beber um pint de Sagres (fingindo que é Sagres), enquanto trincamos o acepipe – e subir uma exígua escadinha. Lá em cima, como se medrasse uma díspar dimensão meia circunspecta, está a malta do core, pois então. Olha, a carinha da “Jane Doe”; olha, o logotipo da Church Of Ra. Queres ver – e usando esse esfalfado cliché – que vamos ter ritual?
De acotovelamento em acotovelamento, lá aterramos na frente, preparadíssimos para nos perdermos na frondosa cabeleira deCaro Tanghe. A menina belga, que tão acanhada é na altura de nos vender uma singela t-shirt, ainda se lembra do falso tiro de partida em Benfica. O concerto, que nunca o foi, fá-la sorrir. “Ah, essa noite…”, diz no curto intervalo que a timidez lhe permitiu. De pronto, “(Beeltenis)” rouba-lhe o esgar – o tema de introdução de “Eros|Anteros” sussurra , obriga a que o estuque do The Old Blue Last se dignifique em sentido, e conduz a jovem ao palanque onde alforria o que de alter-ego poderíamos qualificar.
À franzina voz sucede um berro de fazer disparar a cerveja que os castiços velhotes de East London, no piso abaixo, bebicam. “No Rest For The Weary” aquece os pulsos de Gilles, Lennart e Ivo, enquanto Caro já viaja na sua inner-locomotiva, de oráculo em oráculo. Com ela não cruzamos o olhar. O público, tenso, comgame face, que o jogo é de campeonato, solta as primeira pantufadas quando “Shelter” calca o travão e dá uma mordidela nobreakdown. Caramba, estes Oathbreaker já eram bem bons antes de 2013. Para os indecisos, o parzinho “As I Look Into The Abyss” / “The Abyss Looks Into Me”, considerado por muitos (cof, cof) como o píncaro de “Eros|Anteros” é deslindado na íntegra, sem soluços e com filosófica saudação ao bigode de Nietzsche.
O porreiro de ter um guitarrista de Amenra, cuja lição post-metal/sludge está tatuada nas impressões digitais, é o passear destreza na vagareza. Sim, é catita ter estes bichos da Flandres adiante, a escacar pedra em alta rotação. Só que melhor ainda é vê-los a enterrarem as fuças na lama e a salpicarem javardeira quando buscam o maldito riff de “Hierophant”. O sótão não se contém: há quem meta o pézinho no palco e o esbofeteie. Caramba!, que estes Oathbreaker já espalhavam badalhoquice em “Mælstrøm”. A noite domingueira fica irremediavelmente sisuda quando Ivo, envergando Eyehategod ao peito, bate o compasso de “Glimpse Of The Unseen” – outro riff de ir às aranhas, cravar as unharras no soalho e acender uma velinha ao amplificador doLennart. Ei, não se vão já embora! Foram.