Pelos mesmos motivos que não é fácil escrever sobre emoções e sentimentos, não é fácil escrever sobre Norberto Lobo ou sobre a sua música. Nem todos os caracteres do mundo conseguiriam transmitir as nuances melódicas que o músico lisboeta arranca das cordas da sua guitarra ou a humildade genuína com que agradece cada vaga de aplausos. Há coisas que pura e simplesmente não se exprimem em palavras e o talento do exímio guitarrista português é uma delas. Não dá. Ponto final. Oh! tarefa ingrata a de escrever uma resenha sobre sua actuação sabendo de antemão que esta nunca lhe irá fazer justiça. Mas enfim, chega de lamentos e vamos ao que interessa.

Acabado de regressar de uma digressão pelo Japão e sentindo-se perfeitamente em casa na Invicta, Norberto apresentou-se ao público do Passos Manuel de pantufas. Dessa forma também o ruído dos seus passos foi abafado e os únicos sons que encheram a sala durante a sua actuação – para além, claro, dos aplausos entre temas – foram aqueles que realmente interessam. Enquanto os dedos de Norberto (a sério que só tem 5 em cada mão?) percorriam agilmente aquelas seis cordas tensionadas não se ouvia sequer um suspiro do lado do público. O silêncio era total e parecia até que a sala deixava de respirar para melhor saborear aquele doce mel acústico. É impressionante como um homem e uma guitarra são capazes de silenciar toda uma sala sem esforço aparente.

Ver Norberto ao vivo é bem mais imprevisível do que se o ouvíssemos em disco no conforto do lar. Em palco o lisboeta deixa-se dominar por algo inexplicável e os seus dedos ganham vida própria. Os temas encadeiam-se uns nos outros ou são prolongados indefinidamente e o público fica como que hipnotizado. Depois da melodia suave de Lúcia Lima, das curvas sinuosas de Rustenburger Str, das vibrações cambaleantes de Rua da Palma Blues… perde-se a noção do tempo e só quando a voz de Norberto quebra o feitiço e dá o concerto por terminado é que o público olha para trás é se apercebe que realmente já se percorreuMel Azul – o seu novo trabalho – quase na totalidade.

Os aplausos foram tantos que Norberto teve de regressar ao palco não uma, mas duas vezes. Se na primeira vez trouxe a sua guitarra de volta e dedicou uma bonita canção a Helena (uma sortuda, seja ela quem for), no segundo encore a guitarra ficou no bastidor eNorberto empunhou finalmente a tambura que, até então, apenas tinha enfeitado o palco. Com esse instrumento mais exótico, o músico revisitou Fala Mansa (2011) e, muito lentamente, desceu do palco e refugiou-se nos bastidores sem que o zumbido doRequiem das Abelhas se deixasse de ouvir. Haverá forma mais adequada para encerrar a apresentação de um disco chamado Mel Azul? Claro que não. Volta sempre, Norberto.