A estória dos Nine Inch Nails bate certo com a narrativa da vida de Trent Reznor — o seu projecto de sempre nunca deixou de ser o espelho da vida que levava, desde o êxtase do sucesso de “Pretty Hate Machine”, à desilusão com o mundo do espectáculo e consequente descoberta de uma solidão destruidora de “Downward Spiral” e “The Fragile”. Em 2013, a vida de um dos mais importantes compositores da transição de século deu as suas voltas; acima de tudo, endireitou-se. O positivo é a tónica principal deste “Hesitation Marks”, que nem com o single “Came Back Haunted” nos leva a acreditar que o norte-americano deixa a bagagem a pesar-lhe na consciência. Pelo menos totalmente, que de uma coisa temos a certeza: T-Rez continua a ser um homem de vícios.
Passe-se a introdução, olhando para “Copy of a Copy”, vemos que já não é a heroína que circula no sangue de Reznor. As drogas deste novo álbum variam entre o LSD químico e computorizado de “Ghosts” e de alguns registo de “The Slip”, e o cheiro de ecstasy que branqueava as narinas animadas de “Discipline”, single do antecessor deste novo registo, e se vai digladiando com os esteróides de malhas brilhantes como “Demon Seed”. Contudo, neste registo, o ver e o parecer distinguem-se perfeitamente pela qualidade evidente do primeiro, perante músicas francamente más e foleiras a representar o lado mais “ginásio” do antes espadaúdo e claramente toxicodependente norte-americano. Algo que tende para o exagero, como acontece com a péssima “Everything”.
Não merece a desilusão, nem todo este lado mais dançável e popularucho dos Nine Inch Nails tende para o azeiteiro, pelo menos completamente. Se nem a reabilitação poderia tirar “Eveything” da sarjeta artística, não se poderá condenar eternamente uma “Disappointed” e “Satellite”, exemplarmente construídas segundo os ensinamentos do industrial de texturas que os NIN inauguraram de forma exímia em “Ghosts”, nem desesperar por completo de “Copy of a Copy” e “Came Back Haunted”, para as quais Reznor parece ter desenterrado os sintetizadores que marcavam o passo de “Ruiner”, do saudoso “Downward Spiral”.
Por outro lado, a faceta mais visual da banda-mor do industrial recente está, mais do que nunca, num ponto de excelência, com músicas como “All Time Low” e “Various Methods of Escape” a dar uma lição de ambiental ao nível de alguns dos droners mais experimentados, sem nunca trocar o ADN da banda. Ou o norte-americano não perdeu o condão, ou as suas políticas anti-droga impostas aos restantes membros da banda na última década são uma das maiores provas de hipocrisia.
Afinal, o que esperávamos todos? É sabido que os Nine Inch Nails são a janela para a vida privada de Trent Reznor e já não é novidade de que, neste aspecto, o nosso Starfucker preferido está bem, ao contrário do que acontecia nos tempos áureos da banda. Não se nota uma relação inversamente proporcional com a qualidade da música que faz, mas é óbvio que estes não são os Nine Inch Nails de sempre. Mas são decentes.