Ghosts I-IV é, até agora, o melhor trabalho do projecto Nine Inch Nails (NIN). Por uma simples razão: é um álbum completo e equilibrado, em que a experiência é colocada humildemente num patamar muito difícil de atingir – o patamar da maturidade. E não falhou; a experiência não se tornou uma simples ‘masturbação’ deTrent Reznor, é algo acessível a todos. De tal forma que Ghosts, um álbum que Reznor diz ser o resultado da utilização do “som enquanto meio para descrever perspectivas visuais”, tornou-se num desafio para a inspiração dos fãs: o mentor do projecto NINacabaria por anunciar o «Ghosts Film Festival», um festival organizado em parceria com o Youtube que abre um concurso para todos os fãs, no qual tentarão interpretar as composições do último trabalho dos NIN e, a partir daí, fazerem pequenos filmes – os melhores farão parte do dito festival. Quem melhor que o próprio Trent Reznor para vos explicar isto (ele agora usa o site oficial da banda como um autêntico blogue; podemos dizer que esta proximidade entre uma banda e os fãs não é, de todo, normal, mas é, sem dúvida, benéfica para todos)? Ou o próprio canal do Youtube, exclusivo Nine Inch Nails, criado para efeito deste festival?
Esta iniciativa da banda pode parecer, à primeira vista, como uma mera estratégia de marketing. Eu tenho algo a dizer sobre isso: porque não, se agora falamos de um projecto totalmente independente (posso não concordar com esta afirmação, atenção); principalmente, Ghosts é um trabalho propício a bons resultados, nesse sentido.
Reznor disse-se – e com toda a razão – orgulhoso do produto final das intensas gravações durante o Outono passado, de que resultaram o mais recente trabalho da banda, pois o objectivo inicialmente proposto fora atingido. E é verdade: Ghosts é um álbum de texturas e cores, além da pura sensação (que inundou os trabalhos anteriores dos Nine Inch Nails). É um álbum que serve perfeitamente de banda sonora para um quotidiano citadino, ou para uma deriva intensa. É a sonoridade que gostaríamos de ouvir como história. Em Ghosts temos 36 história diferentes.
Há algo que faz do projecto de Reznor o melhor do Industrial. Não são só as múltiplas influências e a produção exaustiva, até à perfeição, de cada trabalho. É também o facto de cada instrumento nas músicas de NIN funcionarem bem independentemente dos restantes, como se de máquinas numa fábrica se tratassem: todos os sons em Nine Inch Nails soam bem, e não é só na música que isso se verifica – fora dela também. Este pequeno pormenor, que faz as músicas do projecto parecerem algo do outro mundo, é o que mais eleva a experiência visual de Ghosts: cada instrumento representa que uma cor, uma textura, uma imagem, no meio de outros tantos. A prova: o álbum faz muito mais sentido quando deixamos uma imagem atravessar-nos a mente.
Musicalmente, o álbum é comedido e sóbrio de uma forma inebriante. Não se trata de um paradoxo, diga-se. Cada instrumento, cada som é escolhido de forma minuciosa, como é natural em Reznor, sem que nunca caia no exagero – eis a parte sóbria –, mas é de uma intensidade que, quando bem escutada, não deixa ninguém indiferente – entendem-me? Quando soa um piano, soa devagar se assim tiver de ser, não se notando um abuso da alternância de mãos: uma só serve. Quando soa uma guitarra, pode soar na mesma nota até exaustão: há algo a complementar. Quando soa um sintetizador, pode ser com o efeito mais ridículo: faz um sentido na imagem que nós vamos imaginar.
Assim que sei que o mentor dos Nine Inch Nails está a preparar algo penso “surpreende-me”. Sei que é certo que tal aconteça, tal como aconteceu com Ghosts I-IV. Nine Inch Nails não pára a sua evolução. Venha a continuação de Year Zero.