Todos os anos são lançados imensos discos em que o piano é a componente principal. No entanto, poucos são os discos editados em que se faz uma abordagem diferenciada ao instrumento. Artistas como Hauschka e Nils Frahm têm tratado de estabelecer uma nova visão e abordar novos prismas através de composições clássicas do piano.
O piano insere-se num grupo restrito de instrumentos que têm intrínseca uma certa melancolia e, porque não, dramatismo. Felt consegue saltitar por um lado, entre um dramatismo caracterizado por composições e imaginários tristonhos e, por outro lado, por um dramatismo animado. Estes dois sentidos são intercalados no disco, transformando-o numa proposta capaz de assumir presença em diferentes estados de espírito.
A envolvência do som do piano é também meritória, dando a sensação de estar a ser tocado na rua, acompanhando as pessoas nas suas rápidas passadas com um destino final traçado. É uma gravação que envolve o piano numa componente de ruídos próprios do exterior, conversas, assobios e sons próprios da turbulência de uma cidade, não se tratando de uma visão limpa do som do piano.
Felt, transmite a sensação de que o piano se encontra numa bolha, produzindo malhas sonoras, indiferente a toda a acção que se desenvolve à volta dele, dando a ideia de dois mundos distintos mas localizados no mesmo plano de acção.
Depois de Wintermusik e The Bells, Nils Frahm consegue criar mais uma obra de respeito e que aos 29 anos o torna num dos mais proeminentes pianistas contemporâneos.