Nick Nicotine e a sua orquestra mística estão agora potencialmente reduzidos a uma banda (ou, antes, literalmente aumentados a tal). Gipsycalia, com uma tropicalidade contagiante e um ambiente nómada de manter toda a gente acordada noite dentro, muda o rumo assumido no seu predecessor, estando o mentor do projecto finalmente acompanhado por uma banda e por ilustres convidados (Marcelo Camelo, por exemplo) num disco. O resultado não só é mais claro e fresco, com uma produção de acordo com as regras da pop a fazer ecoar todos os paus necessários para fazer a canoa rock dos tabagistas, como ilustrativo da energia inesgotável de um músico que tem vindo a remar contra todas as marés da desértica margem sul do Tejo desde que começou a compor e a actuar enquanto one-man-act. Mais importante ainda, Gipsycalia pode muito bem ditar que as próximas ondas serão provocadas por Nick.

Será essa a maior diferença deste novo registo da Nicotine’s Orchestra: uma produção de fazer jus ao que as composições deGipsycalia têm para oferecer, em que cada elemento presente no disco é audível e agradável. Um pormenor que, de resto, só torna as composições de Nick Nicotine mais agradáveis – a juntar a características que só lhe assentam bem, como o balanço deTropic of Capricorn (assambalhado no fim) ou de Hit Me Like The First Time, ou a beleza das melodias de Crazy ou Adios, Conchita.

Gipsycalia faz jus ao seu nome e reúne sonoridades que não se esperam novas, mas que chegam a refrescantes no álbum, com o rock impregnado de americana e country, a cambalear entre o folclore norte-americano de Gipsy e o surf de Sunny Day, e com um casual piscar de olhos ao México, tão próximo do Oeste desértico das Califórnias e Texas. O novo álbum do músico do Barreiro mostra mais do que um trabalho de casa bem feito – revela aquilo que a muita gente falta, alma.

Todos sabemos que o rock é um pacto com o diabo e que o preço é a danação. Nick Nicotine está danado por cantar-nos sobre isso e sobre toda a festa que consegue fazer.