Espaço. A sua definição é concreta e ilusória, limitada e indefinida e sabe-se que traduz-se na longitude que liga os corpos celestes, humanos, vivos e mortos. Ruído. Qualquer coisa como sonoridade perturbadora, inteligível, vilipendiadora de sensações.
Nesta complexidade de luxúria, bidimensional, mora a essência de Space Is Only Noise, o trabalho de estreia do petiz Nicolas Jaar. Linhas electrónicas de alta roda, pecadoras como o comum mortal; o jazz embutido em gemidos prazeirosos; a voz, baixinha, usada somente quando surge a urgência sexual; as cordas a acentuar a roupa pelo chão, ao desvario e, obviamente, o clímax, a pop lounge dos amassos libertinos.
Isso mesmo, fino e elaborado, Space Is Only Noise é uma traição evolutiva à escola de Ricardo Villalobos, mas emerge de forma tão natural, que esse upgrade só merece ser encarado com uma sensação de calma – tanta ou mais paz como os barulhos do templo oceânico que Être, a faixa inicial, nos trazem.
Claro que a extravagância, como a moda de topo, está presente. A ornamentação nouvelle riche de aires pretensiosos, como se fossemos comprar cadeiras feitas de ouro, e a latência sensual/surrealista (nunca a expressão “dragged into the utter galaxy” significou tanto) fazem parte deste sonho escuro, por vezes desconfortável, que este disco se revela.
Só que essa capacidade de Jaar nos fazer sentir vivos, mesmo que numa bolha intocável de ar escapatório, é a alma mater de um trabalho que nos faz dançar mentalmente, sem, contudo, o fazermos fisicamente. Por isso, pelo conceito, pela reflexão intrínseca e, acima de tudo, pela experimentação, Space In Only Noise não é mais do que um dos melhores discos do ano.