A importância (revestida a gostinho agridoce) deste concerto dos Necros Christos parece ter passado ao lado de muita gente. Para os mais distraídos, há muito que se fala no que será o terceiro e último disco da banda. A banda, aliás, para ter a certeza de que a informação não escapa mesmo a ninguém, até deixa a “dica” no seu site oficial: “the band is preparing songs for the third and final record Domedon Doxomedon as well as a new and huge live set featuring various classics from all of their releases“. O que isto significa em termos do futuro não sabemos e nem sequer nos vamos atrever a fazer qualquer tipo de especulação. A única coisa que sabemos é que o concerto da passada sexta-feira foi o primeiro dos únicos quatro concertos que a banda dará este ano antes de entrar em estúdio para o aguardado/amaldiçoado “Domedon Doxomedon”. E nós preferimos não brincar com as probabilidades de um regresso a terras lusas.

INFRA
Para início do ritual, foi-nos servido Infra. Esquecendo o pequeno contratempo com o microfone, a prestação não foi mais do que aquilo a que a banda já nos habituou com o seu death/black inquisitivo sem pausas para descanso. Tendo em conta a proficiência que lhes tem de ser reconhecida ficamos com a sensação de que poderiam ter ficado mais uns 15 minutos que ninguém se iria queixar. Soube a pouco e quase um ano depois do lançamento do EP “Initiation On The Ordeals Of Lower Vibrations”, já há quem aguarde por novidades.
Seguiram-se os Lux Ferre com uma aproximação diferente ao black metal, mais puro, gélido e tradicional. A apresentar o novo trabalho “Excaecatio Lux Veritatis” de finais do ano passado, gozaram de um som mais coeso mas acabou por ir perdendo alguma força, chegando até a tornar-se um pouco monótono no último par de músicas. Os temas do novo disco como “Não Há Salvação”, talvez pela novidade, acabaram por ser os pontos altos do regresso dos Lux Ferre ao Side B.

Lux Ferre
Quando os Necros Christos chegaram ao palco já o núcleo da assistência tinha marchado em frente, dando quase uma falsa sensação de casa cheia. Para abono da verdade, não nos podemos queixar de falta de público tendo em conta o que é normal para bandas desta dimensão. Também o leque de concertos a ter lugar naquele dia, de Norte a Sul do país, não ajudou à causa. Mas seja para 50 ou para 5000 pessoas, o profissionalismo dos alemães é absolutamente irrepreensível e entregaram uma cerimónia de fazer converter os mais cépticos ao misticismo do seu death metal de raiz old-school.

Necros Christos
O rito de celebração da morte foi dividido, tal como em praticamente todos os lançamentos, pelos “templos”, o último do qual abriu caminho ao encore. O investimento no imaginário divinatório é transposto na perfeição para as actuações ao vivo. Tendo em conta o setlist desta noite poderíamos até dizer que o “huge live set” não deverá andar muito longe disto: desde a primeira demo de 2002 «Necromantic Doom» até ao EP de 2014 “Nine Graves”, passaram por todos os lançamentos com um (compreensível) especial foco neste último. “Baptized By The Black Urine Of The Deceased”, “Necromantique Nun” e “Red Wine Runs Out Of The White Skull Of Jesus” foram particularmente devastadoras e ver o trabalho de guitarra de Mors Dalos Ra só nos dá mais certezas ao afirmar que são uma das melhores e mais dinâmicas bandas de death metal da actualidade. A noite consagrou-se triunfante, naquele que ficará certamente como um dos melhores concertos do género de 2016.