Nem um ano se passou e os Necro Deathmort acabam de publicar o sucessor de Music of Bleak Origin – um dos álbuns mais criativos do ano passado, graças à sua muito bem conseguida mistura de sonoridades electrónicas e doom/drone, sempre carregada de densas atmosferas industriais. O novo trabalho, The Colonial Script, será o mais agressivo da banda até à data, algo que fica bem patente logo no segundo tema, Led to the Water, sendo amplamente reforçado em Arrows. Nunca os Necro Deathmort terão soado tão cheios de raiva, algo que têm o cuidado de clarificar com a torrente de berros com que nos brindam nestas duas músicas. A gritaria está muito mais “em cima” do que em lançamentos anteriores, mas ainda funciona como mais uma entre as várias camadas que o duo sobrepõe com mestria.

Apesar destes dois momentos, este aumento de agressividade não vem à custa da aptidão para criar atmosferas pouco confortáveis, pela qual se haviam evidenciado, nem dos elementos mais electrónicos. Ambos continuam presentes, mas é como se esta mistura pouco usual de estilos e atenção ao detalhe fosse mais um meio para a criação de algo concreto do que um fim em si mesmo. A tal não será alheia a história por trás da maioria dos 45 minutos que compõem The Colonial Script – mesmo que a banda rejeite que se trate de um álbum conceptual. Ainda assim, pelo que se pode inferir das várias entrevistas dadas pelo duo, há uma temática transversal a estas nove músicas, nomeadamente a alienação da raça humana, desde a aparição dos primeiros colonizadores até o planeta estar cheio de “dickheads”, tudo isto do ponto de vista de observadores alienígenas. Não que seja algo óbvio aquando da escuta do disco ou sem o qual este não possa ser aproveitado, substituido por qualquer outra imagem a que sejamos independentemente remetidos, mas é um facto que este ambiente se ajusta perfeitamente ao que se ouve e acaba por funcionar como uma espécie de fio condutor para toda a escuridão já presente em Music of Bleak Origin e This Beat is Necrotronic, adicionado-lhe um toque de raiva que é muito bem vindo.

A  primeira música do álbum, Imperial, ilustra perfeitamente a forma como o tema se liga com o que é ouvido. Aqui é contada a história dos tais colonizadores, através de um instrumental mais ambiental ao ínicio, mas que vai sendo infestado de barulheira electro, apenas para culminar numa melodia que tem tanto de glorioso como de tenso até ao limite. Se a isto juntarmos o imaginário da capa, que remete precisamente para esta observação exterior do declíneo terrestre, temos os ingredientes para uma bela e sombria viagem.

Para reforçar a ideia de que, apesar de uma maior agressividade quando comparado com trabalhos anteriores, The Colonial Spiritmantém a presença momentos repletoss de electrónica de teor distópico, basta ouvir Endless Vertex – provavelmente a música com um ambiente mais trabalhado ao pormenor de todo o cd, desenvolvendo-se numa toada muito contida à qual vão sendo introduzidos novos elementos e cuja intensidade vai aumentando sem nunca explodir. Na prática, em pouco mais de cinco minutos feitos à base de electrónica, mostraram a uma boa quantidade de bandas de post-rock como é que se faz o género delas como deve ser.

O momento mais pesado, fica, no entanto, guardado para o fim; altura da história em que uma traça gigante pousa no planeta, aniquilando acidentalmente a população do mesmo com a mera violência do impacto. É mesmo disto que trata Insecto!, o asfixiante hino à insignificância humana com que os Ingleses colocam um ponto final em The Colonial Script.