É sempre bom saber que a voz de Dave Verellen ainda não concedeu tréguas ao silêncio, nem ao cansaço. O vocalista dos extintos Botch permanece, uma década depois de colocado o ponto final no inestimável legado da banda de Tacoma, como um dos mais valiosos frontmen da cena hardcore/math norte-americana. Sim, é verdade, é ele quem dá voz aos Narrows, banda que edita agora o seu segundo álbum de carreira.
Fundados há quatro anos, este grupo, para além de Verellen, tem gente de These Arms Are Snakes, Unbroken e Bullet Union. Que o resultado da junção de cinco veteranos deste calibre resulta positivamente é sabido desde New Distances, disco de estreia editado em 2009. Nele, os Narrows tentaram encontrar o equilíbrio ideal para as várias correntes estilísticas que os influenciam e isso acabou naturalmente por encaminhá-los para uma estreia empírica de bom nível. Três anos depois, Painted revela que a banda encontrou o seu caminho.
Under The Guillotine prova, desde logo, que os Narrows estão mais sombrios. As guitarras ganharam contornos mais ásperos e o baixo foi claramente colocado em modo de ataque, pronto a conceder peso. Não quer isto dizer que os Narrows tenham propriamente entrado pelo caminho dos Botch, nada disso. O ritmo, sendo rápido, raramente se deixa aventurar pela demência que sempre foi predicado da antiga banda de Verellen. Se há algo a destacar no capítulo da insanidade, então, lá está, as direcções apontam para as guitarras. Para além de estarem mais sombrias, recorrentemente deixam que o baixo tome conta das operações rítmicas, para se assumirem como rainhas dos acordes dissonantes, fazendo recordar, a espaços, KEN mode.
Uma abordagem evidentemente mais pesada, mas que nem por isso se esquece de dar também alas à face post do grupo. Greenland, por exemplo, dedica-se durante oito minutos (de longe a faixa mais longa do álbum) a escarpar algo que vais desde o noise à melodia post-rock/metal, tipicamente em crescendo.
Painted coloca os Narrows naquela que parece ser a direcção certa e apropriada. E desse facto não podemos dissociar Matt Bayles, produtor que já trabalhou com ISIS ou Mastodon e que esteve encarregue de ajudar Painted a ganhar forma.