A espera parecia eterna e os corações mais frágeis já se deixavam angustiar pela longa ausência dos My Bloody Valentine. A Internet catalisou uma enorme vontade do mundo por voltar a receber notícias destes shoegazers. Loveless (1991) é um dos artefactos musicais mais adorados da sua geração – ajudou osMBV a construírem um fenómeno de sentimento de perder, que se manteve até aos dias mais recentes. Mas no sábado passado, dia 2 de Fevereiro de 2013, as preces mais profundas dos fãs da banda foram atendidas e ficou então disponível m b v, terceiro disco de originais do grupo.
O colectivo irlandês colocava-se então numa difícil posição. Se por um lado tinha a missão de agradar aos mais nostálgicos, o objectivo também seria mostrar que Shields e companhia não estavam presos ao passado e ainda teriam algo a acrescentar ao mundo da música em 2013, mostrando a genialidade que os caracterizava. Nessa perspectiva, este disco é um sucesso.
No bonito processo de sedução que é m b v, o encantamento começa logo com she founds you e a habitual doçura das guitarras cruzadas que criam uma bonita harmonia e nos levam para uma zona de conforto e sonoridades bem familiares. Em only tomorrowrecordamos também a tremenda qualidade que os My Bloody Valentine possuem para a criação de melodias, e facilmente ficamos embevecidos com o riff avassalador da guitarra, que acompanha a voz de Bilinda, e que dificilmente sai da cabeça. Who sees you completa o rol de canções de familiares e começam, então, a surgir as principais novidades. Primeiro, com as ambiências de post rock de is this and yes, que recordam a sonoridade de bandas como Stereolab e Broadcast. Surgem depois as orelhudas if i am e new you, em brilhantes e açucarados loops de pop. Induzem sorrisos e encaminham-nos para a orquestral e ligeiramente esquizofrénica in other way. Isto antes dos nossos ouvidos explodirem no instrumental hipnótico e cavalgante de nothing is, faixa de uma cadência extraordinária. Para fechar, o nível cósmico de wonder 2, avassaladora viagem a bordo de um avião de guerra, onde as nuvens de sonoridades jungle criam a turbulência perfeita para aumentar a adrenalina e terminar o disco em êxtase.
Não se trata de um álbum nostálgico, mas sim de um coerente sucessor de Loveless. É fácil a sua contextualização na obra da banda, mesmo passados 22 anos. Esta é a maior prova da sua qualidade. Um álbum que honra as origens, sem esquecer a vontade de marcar o seu próprio cunho. Tudo isto torna o regresso dos MBV um momento relevante e muito especial.