O lançamento de Ocean Roar e Clear Moon deixa claro que são dois discos em separado e que correspondem a temáticas diferentes. Contudo, poderiam perfeitamente ser enquadrados na mesma componente física, já que são muitas as dimensões musicais em que se tocam e uma audição conjunta dos dois é uma experiência inigualável, parecendo mesmo que as duas obras foram feitas para apreciação integrada.

Ambos os álbuns operam sob uma constante permanência do contraste e da diferença, que marca de forma gritante todos os elementos dos mesmos. O mais incrível é que a dissonância surge não só na sucessão de temas, mas, acima de tudo, dentro da própria estrutura de cada música.

Conseguir trabalhar e produzir esquemas tão diferentes é de uma ambição extrema. Apesar disso, quando o resultado é apresentado desta forma, não é possível deixar de considerar que correr riscos é a solução para que se crie algo com sabor a novidade. De facto, até este momento, Mount Eerie não tinha ornamentado nada tão cativante como esta dupla edição.

Não existe um enquadramento musical específico, nem um conceito estreito. Como tal, Ocean Roar poderá ser melhor apreendido perante oscilações e, tal com o título indica, sob uma ondulação crescente, em que o retalhar de ondas de som se encaminham para o noise e drone muitas vezes incorporado. Por sua vez, em Clear Moon recorre-se a momentos menos intensos, mais melódicos e límpidos. Assim, o circular por diversos caminhos, por várias facetas, é uma constante, reproduzindo composições que tinham tudo para ser divisíveis, mas, que neste caso, representam um conjunto perfeito. Uma proeza pouco frequente em que se ouve e presencia a arte da mudança ser fundida em algo uno e indivisível.

Dizer que estas duas peças são contrastantes apenas em termos musicais é lisonjeiro e simplificador. Também através das emoções transmitidas se sente a busca incessante por momentos desoladores, melancólicos, mas que apresentam sempre alguma luminosidade – típica de um candeeiro em que a lâmpada está prestes a fundir -, mas que consegue dar alguma cor perante tantos movimentos escuros.

Ocean Roar e Clear Moon são dois mundos musicais estrondosos e incrivelmente bem concebidos, em que mesmo nas partes com pulsações sonoras mais extremadas se consegue sentir uma reconfortante harmonia e, como tal, entender ambos como pertencentes ao mesmo domínio. Independentemente de conseguir ou não, no futuro, produzir algo tão distinto, será pouco importante. A sua tarefa neste mundo está cumprida e a criação da sua obra-prima está finalizada.