A noite de Halloween e os Moonspell parecem converger na mesma direcção. Com a clara noção disso, a banda portuguesa tem o hábito de aproveitar o serão das bruxas para proporcionar um concerto especial aos seus fãs mais acérrimos e, desta vez, Wolfheart, o primeiro e mítico disco dos Moonspell, foi recuperado na íntegra.
Mesmo aqueles que estão habituados a concertos e a enchentes na Incrível Almadense, terão ficado admirados com a quantidade de gente que se deslocou até à sala da Margem Sul – sala essa que Fernando Ribeiro e companhia não visitavam desde 2007. A massa humana foi tal que, para que todos pudessem entrar, a banda atrasou o seu concerto em quase uma hora. Durante o tempo de espera, várias imagens dos primórdios da carreira dos portugueses foram sendo projectadas no pano que tapava todo o palco da Incrível, pano esse que só caiu perto as dez e meia da noite, com Wolfshade (A Werewolf Masquerade).
Se a temperatura já era elevada antes de o concerto começar, abeirou o sufocante quando os Moonspell iniciaram o desfile dos clássicos que compõem Wolfheart. A “alcateia”, denominação escolhida por Fernando Ribeiro para apelidar os fãs presentes em Almada, respondeu a cada tema com um coro imponente, que ganhou maiores contornos quando o grupo decidiu juntar Ataeginaa Trebaruna, as duas faixas especialmente dedicadas a deusas da mitologia lusitana. Ainda assim, o público que lotava tanto a plateia, quanto os dois balcões da sala, elevou a fasquia quando os hinos Vampiria e, principalmente, Alma Mater foram tocados – a última com a participação especial de J.M. Tanngrisnir, guitarrista de Moonspell de 1993 e 1995.
Findada a apresentação de Wolfheart, Fernando Ribeiro fez questão de pedir desculpa pelo atraso e avisou que a noite não ficaria por ali. Com a entrada de três dançarinas do ventre, vestidas a rigor para a ocasião, a banda portuguesa seguiu a homenagem ao seu passado, desta vez com faixas do EP Under the Moonspell, datado de 1994. Tenebrarum Oratorium (Andamento 1) e Opus Diabolicum fizeram as delícias de todos aqueles que são adeptos dos primórdios dos Moonspell; e mais radiantes terão ficado quando o grupo tirou da cartola Goat On Fire, música incluída na demo Anno Satanae, de 1993, num momento que decerto terá recordado a noite de Halloween de 2007, no Coliseu dos Recreios, em que a banda tocou na íntegra tanto o EP, quanto a demo de estreia.
E se ainda havia alguma expectativa para saber se a banda avançaria na sua linha cronológica para lá dos primeiros anos de vida, essa dúvida ficou dissipada com as quatro derradeiras faixas da actuação. Opium, Awake!, Mephisto e, claro está, Full Moon Madness, todas pertencentes ao não menos consagrado Irreligious, encerraram uma noite que certamente perdurará na vasta moldura humana que visitou a Incrível Almadense para uma performance que chegou quase às duas horas de duração – onde os Moonspell decidiram, ainda, incluir uma pequena parcela de uma música pertence ao futuro álbum, a ser lançado, segundo Fernando Ribeiro, na Primavera do próximo ano.