Olhando agora com a distância necessária para “For My Parents”, podemos finalmente compreender que, apesar de ser um álbum menor de toda a discografia dos Mono, não há que esperar para sempre do quarteto um avolumar de constantes obras-primas. Neste momento pode-se encarar o citado registo como uma forma de esfriar expectativas e colocar dúvidas a propósito daquilo que deles se pode esperar, fazendo entender que, porventura, também eles se tenham cansado de consecutivamente percorrer a mesma estrada, mesmo que esta vá tendo ligeiras curvas. “The Last Dawn & Rays Of Darkness” surgem por agora como uma primeira inversão de marcha.
Contudo, essa mudança não fica clara quando se ouve quer “The Land Between Tides / Glory”, quer “Kanata”, que voltam a usar, mesmo que de forma mais espontânea, os habituais crescendos e decrescendos que, diga-se em boa verdade, permanecem impactantes, épicos e tão solidamente vinculados ao ADN dos japoneses. A primeira suave mutação surge com a turbulência de sensações que uma malha como “Cyclone” proporciona, em que reconhecemos outra vez o carismático dedilhar de Taka que, em “For My Parents”, exagerava na forma melosa como era servido. As explosões surgem, desta feita, mais controladas e sem serem servidas ao desbarato, como o exemplifica “Elysian Castles”, em que conseguimos suster um tema dos Mono na espera desse acontecimento, mas que o mesmo nunca se sucede.
A divisão em dois volumes não poderia fazer mais sentido. Duas peças diferentes não só em termos conceptuais como também musicalmente opostas, não seriam solução em apenas uma rodela. Se com “The Last Dawn” sentimos o primeiro esboço daquilo que são uns Mono menos inclinados na excessiva utilização de acordes, em “Rays Of Darkness”, experimenta-se o completo desbloqueio, representado na total desvalorização das partes orquestrais. E, se em cima se referia a mudança, nada como testemunhar um disco em que pela primeira vez em quinze anos não se utilizam esses elementos.
A grande força de desbloqueio sente-se de imediato em “Recoil, Ignite” – talvez um dos temas mais pesados que alguma vez escreveram –, mas torna-se mais que evidente em qualquer uma das composições que se lhe sucedem. E é a partir desse instante que realmente se assume o valor que toda esta obra tem. Não só através do uso do trompete em “Surrender”, mas essencialmente, no momento de silêncio de “The Hand That Holds the Truth”, em que se ouve um autêntico assalto vocal de Tetsu Fukagawa, dosEnvy, e o resultado não poderia ser mais animador. Para terminar, “The Last Rays” aparece não só como o último raio de toda esta epopeia, com uma espantosa melodia de experimentação noise e drone, escola a que os nipónicos agora se juntam. Resultado: Nota máxima.