Revelador, extremamente aberto à exposição das suas ideias e sentimentos, assim encontrámos Taka a perfilhar todo o conjunto de emoções que se espera vivenciar nas próximas duas datas: 5 de Maio no RCA, em Lisboa e no dia seguinte na Sala 2 do Hard Club, no Porto.
Ainda dista pouco tempo desde o lançamento do novo disco. Depois do envolvimento na sua elaboração, qual o sentimento em relação ao mesmo?
Tenho uma boa sensação com estes novos álbuns. O processo de composição não foi fácil e agora consigo finalmente ver o que tinha em mente. Fazem-me sentir como tendo mais liberdade para criar os próximos.
Quando começaram a compor, já tinham em mente a edição de um duplo disco ou foi algo que foi surgindo durante o processo de escrita? As temáticas são tão diferentes que um único disco não faria sentido?
A razão para isso acontecer deveu-se à colisão interior de dois tipos de emoções fortes: uma obscuridade absoluta e, ao mesmo tempo, esperança. A escuridão não tinha nada que ver com tristeza, era mais ou menos raiva e sofrimento, como uma desilusão sem fim ou um desespero incontrolável. Iniciei a escrita para o novo álbum com estes sentimentos. Na verdade, quando começas a escrever com base neste tipo de sensações, a tua vida diária acaba por tornar-se muito mais escura e depressiva. Por exemplo, quando saía do estúdio, os meus sentimentos eram de rebelião. Nem conseguia pensar, como se tivesse vendido a minha alma.
Ao mesmo tempo, comecei a compor mais música, mas num estilo muito diferente, não necessariamente para os MONO, mas apenas para libertar as minhas emoções. Mudei também o meu estilo de vida: em vez de escrever as músicas durante a noite, componha logo de manhã cedo ou durante a tarde. Estes novos temas acabaram por se tornar como uma terapêutica para sobreviver no dia-a-dia. Nessa altura, não tinha nenhuma intenção de publicar dois álbuns. Com o passar do tempo, consegui aceitar as músicas que tinha escrito quando estava muito em baixo; as músicas que representavam o meu lado mais escuro; as músicas que não queria por perto (pelo menos durante uns tempos). Depois, pensei em colocar todas as malhas num álbum, mas isso não me convencia.
“The Last Dawn” é antagónico ao “Rays Of Darkness”. Essencialmente acerca da fuga da escuridão em procura da luz. Pelo menos para mim. É por isso que decidimos publicar as músicas em dois álbuns.
“Rays Of Darkness” deixa praticamente de lado aquele toque mais orquestral dos MONO. Ouvem-se partes de noise, drone, entre outros. O que motivou esta decisão?
Desta vez, quisemos deixar as músicas caóticas, o mais caótico possível, e as positivas, o mais positivo possível. A razão derivou do facto de sentirmos que, mesmo quando achas que tudo está em desordem, há sempre alguma ordem. Sem pensar nisso, começámos a aceitar gradualmente o caos como uma ordem/pensamento embrulhado em negatividade. Queríamos demonstrar isso ao mundo como arte.
De seguida decidimos não usar muito a orquestra ou as cordas que há tanto tempo nos acompanham. Optámos por usar apenas um pequeno quarteto no “The Last Dawn”, mas, no geral, queríamos voltar à abordagem directa de expressar tudo como uma banda de quatro elementos. Também queríamos expandir a possibilidade da guitarra e criar um som que usávamos nos primórdios.
«Penso que entrevistas como esta são uma fantástica oportunidade para me revisitar e pensar sobre o que vou querer fazer a seguir.»
Em “For My Parents” afirmaram que gostariam que este fosse como uma prenda de um filho para os seus pais. “The Last Dawn/Rays Of Darkness” tem alguma espécie de dedicatória? A quem gostariam que fosse oferecido?
Nessa altura tinha acabado de ocorrer um tsunami desastroso no Japão, e não sabíamos se íamos conseguir devolver alguma coisa às pessoas, à sociedade e ao mundo através da arte. A arte em si é algo muito mais alargado e valorizado por toda a gente em vários países, histórias, culturas e línguas, e acreditamos que vai continuar assim durante muitos séculos. Dessa forma, decidimos gravar algo como “For My Parents”. Queríamos deixar algum tipo de alegria e valorização da vida. Pessoalmente, estou feliz por termos conseguido um álbum importante para os nossos pais, em vez de dizer simplesmente «obrigado por nos terem criado neste planeta!». Sempre quisemos mostrar aos nossos pais o nosso agradecimento como músicos e acho que a mensagem foi muito bem recebida.
Desta vez, a inspiração veio de uma história que li recentemente sobre um atleta. Um homem muito sortudo e talentoso desde pequeno, mas, que um dia se aleija durante um jogo e fica impossibilitado de fazer desporto. Cai numa depressão grave e perde a razão de viver, não podendo mais sonhar ou esperar, chegando a pensar no suicídio. Muitos anos depois, ele conseguiu fugir a essa escuridão e escreveu um livro para os atletas construírem um corpo que prevenisse as lesões. O livro tornou-se muito famoso no mundo do desporto e é actualmente considerado dos mais importantes na área. Conseguiu descobrir, passando pela escuridão mais profunda, o seu verdadeiro destino. Por isso, desta vez, quis representar ambos os lados da obscuridade e da luz, que cada pessoa acaba por sentir durante a vida, em dois discos. Aos que estão com dificuldade de acompanhar este mundo em constante progressão, os que pensam em abandonar os sonhos, os que receiam o futuro ou não conseguem encontrar o próprio lugar, queria dar uma música que lhes permitisse ultrapassar esses muros. O sítio mais escuro fica sempre perto do fim do túnel. Não desistam e continuem a caminhar em direcção à luz. Pode não parecer na altura, mas a escuridão existe para dar força para chegar ao pico. Queria mostrar isso às pessoas, e dar esperança.
«No princípio queria criar algo original, sinfónico e espiritual tipo Beethoven, mas com guitarras eléctricas.»
Há uns anos, numa entrevista que nos deste, dizias que «”For My Parents” ajudou-me a compor mais livremente, mais abertamente e um pouco mais impulsivamente». Este disco duplo parece mesmo confirmar aquilo que nos dizias, não?
Parece que estou sempre a dizer o mesmo cada vez que sai um álbum. Para variar, não foi fácil encontrar uma nova arte, mas vale a pena experimentar algo de novo.
Comemoram por agora quinze anos enquanto banda. Pretendem comemorar de alguma forma especial? Consideram voltar a tocar com orquestra ou, neste momento, sentem que já não faz sentido?
Desta vez não temos uma ideia específica para a celebração, mas publicámos um registo misto de fotografias com dois CDs ao vivo.
Depois de “Hymn To The Immortal Wind”, “For My Parents” pareceu prolongar um pouco a mesma temática. Contudo, este duplo registo parece querer progredir e experimentar mais. Em algum momento sentiram que precisavam de um novo impulso ou mudança musical?
No princípio queria criar algo original, sinfónico e espiritual tipoBeethoven, mas com guitarras eléctricas. Até agora conseguimos experimentar tantas coisas, mais do que uma banda indie pode pedir, como tocar com uma orquestra em Nova York, Londres, Austrália e Tóquio. A partir destas experiências, tentámos criar algo mais complexo e clássico para o nosso álbum anterior “For My Parents”, mas, ao mesmo tempo, começámos a levantar algumas preocupações. Durante a digressão nos EUA, sentimos que os nossos sons pareciam um dinossauro invertebrado, comparativamente com os mais antigos. Claro, a música sinfónica é forte, épica e sonhadora, mas falta algo quando comparada com a música rock, nomeadamente, a pressão e a destruição que esta pode trazer. Começámos com quatro elementos, e, apesar das nossas preocupações aparecerem muito antes, achámos que era um risco necessário para desafiar algo de novo. Mas, ao mesmo tempo que a tour progredia, tivemos a certeza que as nossas sensações estavam certas.
Voltar às raízes foi fácil, mas também não queríamos fazer o mesmo que já tínhamos feito. Pensei muito nisto. Precisava de um novo método que mostrasse as minhas emoções actuais, e acredito que isto nos vai permitir ver um novo mundo.
Cada vez que lançam um disco, parece que dificilmente podem voltar a criar algo com tanto impacto. Contudo, edição após edição conseguem sempre contrariar esta percepção. Quando terminam um disco, têm essa sensação? Em que momento se sentiram de novo inspirados para escrever novas músicas?
Essa é uma pergunta interessante. Antes de escrever uma música, tens uma filosofia e pensamento próprio, mas quando a acabas de escrever, ou criar um álbum, e o vês finalizado, isso traz tanta satisfação que torna todo o processo difícil de recordar. Como por exemplo as fundações das melodias e a construção das músicas. Penso que entrevistas como esta são uma fantástica oportunidade para me revisitar e pensar sobre o que vou querer fazer a seguir. Imagino e acredito que haja uma arte que pode reconstruir o mundo para ser um melhor lugar. Nas nossas vidas com tempo limitado, quero partilhar a minha música com quantas mais pessoas possíveis em todo o mundo. Como seres humanos, acredito que estejamos destinados a nos ajudarmos uns aos outros, amarmo-nos e alegrarmo-nos com os valores das nossas vidas.
Em “The Hand That Holds the Truth” surge a inclusão de vozes. Pretendem repetir no futuro? Ficaram satisfeitos com aquilo que conseguiram com as vozes de Tetsu Fukagawa?
Durante muito tempo, quis colaborar com o Tetsu. Ele tem sido um bom amigo há tanto tempo, por isso fiquei muito feliz quando se tornou uma realidade. Enquanto estava a escrever as músicas, podia ver claramente de que forma a sua voz ia encaixar. Quando começámos efectivamente a colaborar, não precisei de dar qualquer tipo de instrução. Ele já sabia perfeitamente o que eu esperava obter. A música ficou incrível e estamos muito orgulhosos.
Nos últimos anos, a vossa agenda permanece quase sem interrupções. Gravação de disco, concertos por todo o mundo, regresso ao estúdio para mais composições. Sentem ou já sentiram vontade de, durante um largo período de tempo, se desligarem dos Mono?
Sim, por vezes sentimos a necessidade de fazer uma pausa, mas também queremos tocar mais, criar mais, ter mais experiências, mais aventuras. A vida é tão curta e tão fantástica.
Sendo vocês tão activos, não há como fugir: depois da digressão europeia, o que traz 2015 para os Mono? Em Portugal, temos muitas saudades vossas…
Vamos começar nos EUA após a tour europeia e depois….Vão ver. Ainda não podemos contar. Estamos muito entusiasmados de vos ver em breve e de tocar em Portuga!