Na última década, Mono fixou, merecidamente, o seu nome entre os expoentes máximos do chamado Post-Rock, um género que adquiriu uma enorme popularidade nos anos mais recentes e que se tornou uma espécie de guia-modelo para muitos projectos musicais recém-surgidos. A marca dos japoneses nesta nova vaga é inequívoca. Por isso mesmo, o seu regresso a Portugal, passados três anos e com o novo For My Parents debaixo do braço, não podia deixar de provocar alguma expectativa. Assim o confirmou um Paradise Garage bem composto para os receber.

Pouca coisa parece ter mudado desde essa última visita. Não só porque a setlist foi novamente dominada por Hymn to the Immortal Wind, sobrepondo-se a  For My Parents, mas, acima de tudo, porque Mono não se cansou da fórmula que os popularizou. As orquestrações e a sinfonia glaciar das suas composições, o recurso invariável às palhetadas torrentosas que fazem o som das guitarras de Yoda e de Goto cair sobre nós como uma cascata, oscrescendos que estruturam quase todas as músicas, permanecem as características prevalecentes do som dos japoneses. Até o transe que toma conta de Goto, em Pure as Snow, com o guitarrista a soltar-se da sua Fender e a atirar-se para o chão, entregando-se aos pedais com grande espalhafato, se assemelhou em tudo ao presenciado no concerto de 2010.

Os fãs mais acérrimos verão na linearidade desse percurso uma qualidade, o que pode ser compreensível por, entre outras razões, tornar os concertos de Mono menos imprevisíveis. Mas se é essa fórmula musical que nos proporciona momentos entre o onírico e o épico e nos permite sentir um frio mais aconchegante do que desconfortável, também é verdade que é essa a principal razão para os momentos de tédio que nos assolam ao longo do percurso repetitivo e monótono da sua actuação. Nada disto anula a mestria de Mono naquele que é o seu registo, nem tão pouco minimiza os pontos altos de qualquer das suas actuações. Quando toda aquela onda sonora gigante nos atinge, com a bateria a explodir e o bombo a saltar-nos incessantemente no peito, é difícil não nos rendermos por completo à sua força. Músicas como Burial at the Sea ou Ashes in the Snow são causa de sensações fora do comum e proporcionam autênticos momentos de elevação. O maior senão é mesmo essa a incapacidade (ou desinteresse) em contornar o repertório de truques usual, até por quase banalizar e roubar (à medida que o concerto avança) parte da força dessa transcendência emocional que transborda do som dos japoneses. Ainda assim, estou disposto a aceitar que talvez sejam esses momentos singulares que fazem dum concerto de Monoalgo especial a tornar-me demasiado exigente.

Antes dos reis da festa, esteve em palco o belga Dirk Serries, com o seu mais recente projecto Microphonics. Apesar da sua longa carreira e de ser a mente por trás dos defuntos vidnaObmanaFear Falls Burning, o que o levou a colaborar com músicos como Alan Sparhawk (Low), Johannes Persson (Cult of Luna) ouSteve von Till (Neurosis), Dirk Serries é aquilo a que se pode chamar um ilustre desconhecido. Apenas munido da sua Les Paule de alguns pedais, Microphonics deixou evidente, durante 25 minutos, e para quem quis ouvir, que há alguma injustiça nesse desconhecimento. Camada sobre camada, sem nunca cair no exagero e sem nunca deixar que o ruído se sobrepusesse à limpidez e suavidade dos sons que cria, Microphonics mostrou como é possível a música ser densa e simples em simultâneo. Fica o desejo de que volte com mais tempo, até para compensar as visitas com que não nos brindou no passado.