A noite de 9 de Março marcou de alguma forma quem esteve no Musicbox, em Lisboa, e assistiu a duas actuações dignas de memória. Seria, no entanto, dizer pouco da actuação do nome grande se os puséssemos ao mesmo nível. Os Löbo foram grandes, mas os japoneses Mono foram ainda maiores – e não apenas num campo puramente musical.

Os Löbo começaram as festas mesmo à hora marcada com a primeira música do EP, com um som algo prejudicado por graves (e bem-vindas, tendo em conta o calor) deslocações provocadas por um (fantástico) ar-condicionado – que não se coibiu a condicionar a experiência sonora dos setubalenses. No entanto, o som foi ganhando quase a forma ideal, sendo que o culminar do concerto, com a primeira música que tornaram pública, Dânaca, foi ouvido e sorvido com uma definição e com uma pujança de fazer inveja: ai, aquela tarola carregada de reverb no momento mais calmo da música a provocar a sensação de isolamento cavernoso ideal. O som acabou por ficar bom, e a prestação dos Löbo esteve à altura.

Mas, em boa verdade, tudo isto seria suplantado pela actuação dos nipónicos. Pode parecer um contrasenso, mas não é. Se Mono é uma das provas-maior de que não são precisas palavras para haver uma música que nos toque, por outro lado, se se pudesse traduzir a escrita de poesia para a música, os japoneses seriam um belo soneto. É que estes senhores conseguem traduzir a parte sensorial desta arte como há muito não se via, levando-nos quase a sentir a água fria de um mergulho num mar relaxante, com os seus efeitos de xilophone.

Os Mono deram um concerto de verdadeiro Post-Rock – e mesmo os clichés típicos do género estiveram presentes, com uma grande atenuante: eram aplicados com uma classe digna, desde as paredes de guitarras imbuídas em reverb e os longos crescendos, às melodias que se auto-completam com as camadas de delays – e ainda acrescentaram ao género a sua marca de procurar embelezar tanto quanto possível a música nos momentos mais silenciosos.

O tema da actuação foi, claro, o último Hymn to the Immortal Wind, a indiscutível obra-prima dos Mono. Começando com o tema de abertura Ashes in the Snow, a força das guitarras quase nos levava imaginar os violinos que Steve Albini tornou imprescindíveis para a audição das novas músicas do quarteto de Tóquio – e para quem não tinha essa imagem sonora na cabeça, tudo soou ainda melhor. A banda passou ainda pelo single Follow the Map e por clássicos como Yearning, pintando imensos momentos altos – era escolher. O desfecho ficou, também, nas mãos do último álbum e do seu final, Everlasting Light.

Já tardava uma passagem deste calibre, de uma banda que represente o Post-Rock com esta intensidade, por Portugal. Mas antes tarde do que nunca.